Escrevo esta crónica depois de ter acabado de ouvir Luís Montenegro. Duplamente de fora. De fora da esfera partidária e de fora da contaminação mediática que os comentários supervenientes sempre impõem.
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E confesso-me preocupada. Num país que tradicionalmente oscila entre o PS e o PSD com esporádicas extensões à Esquerda ou à Direita, é fundamental manter propostas consistentes e claras de ambos os partidos.
O facto de o PSD pós-Passos Coelho não estar a conseguir afirmar uma proposta estratégica para o país é grave. Desenganem-se aqueles que pensam que esta capitulação beneficiará o aparecimento de novas e mobilizadoras formações partidárias. O que começa a despontar indica apenas uma minguada votação e uma, provavelmente histórica, abstenção. Pelo menos daqueles que são apenas cidadãos eleitores sem militância partidária.
A alternativa que enriquece qualquer democracia tem de ter espaço e de se perceber.
E se é certo que Rui Rio tem dificuldade em comunicar com eficácia e tende a confundir firmeza com teimosia, está por provar que não tenha ideias, que não tenha estudado alternativas ou que não tenha mesmo conseguido alguma mobilização.
O seu Conselho Estratégico Nacional produziu pensamento sobre a Justiça, sobre o Ensino Superior, sobre Saúde ou sobre fundos comunitários; o seu partido apresentou 104 propostas de alteração ao Orçamento do Estado e preparou-se por meio de comissão criada para o efeito para refletir sobre o seu desempenho interno e sobre o sistema político nacional.
Desde fevereiro inscreveram-se 5218 militantes e pelos vistos cerca de um terço são jovens.
Tudo isto e todo o resto pode ser menos bom e precisar de ser feito de novo. Mas o que me incomoda é a facilidade com que pura e simplesmente se age como se não existisse.
Hoje no PSD como todos os dias em quase tudo. Ninguém quer parar, estudar e pensar para depois se comprometer com uma solução.
Tudo se desenrola num frenesim de superficialidade que só pode esconder a intensa necessidade de defesa de interesses pessoais.
E é mau quando a política se confunde com um concurso de Miss Mundo onde os candidatos pouco mais fazem do que pedir a baixa de impostos ou a defesa da paz no Mundo.
*Analista financeira