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A saúde é uma das primeiras preocupações de todas as pessoas. Por isso, não admira que seja objeto de publicidade intensiva. Quando um médico vê o género de publicidade que é feita sobre alguns produtos de saúde de venda livre até se arrepia com os alegados efeitos benéficos milagrosos anunciados, que não correspondem à verdade nem têm sustentação científica.
Esta semana, um editorial publicado no "British Medical Journal" (BMJ 2015;351:h4825) desmistifica os suplementos de cálcio, demonstrando que, exceto quando possam ter indicação formal, não têm qualquer evidência científica consistente que diminuam as fraturas ósseas ou as quedas, podendo até ter um efeito contrário, e que, mesmo se associados a vitamina D, se associam apenas a um escasso aumento na densidade mineral óssea e somente no primeiro ano de suplementação.
Não esquecer também que o consumo sistemático de suplementos de cálcio pode aumentar o risco de obstipação e transtornos gastrointestinais, doenças cardiovasculares e pedras no rim. Uma alimentação saudável e variada proporciona a quantidade de cálcio necessária ao organismo humano.
Num outro campo, uma investigação da BBC (BMJ 2015;351:h3833) detetou que muitos suplementos alimentares à base de plantas não continham o ingrediente principal como anunciado. Por exemplo, mais de um quarto de 30 destes produtos com ginkgo biloba, que foram testados, tinham muito pouco ou nenhum extrato desta planta!
A falta de controlo de qualidade de muitos desses produtos é um verdadeiro crime económico e de saúde pública, pois não são submetidos ao mesmo rigoroso controlo dos medicamentos.
A legislação sobre publicidade em saúde tem de ser mais exigente, para evitar que a população, que está particularmente empobrecida, seja induzida em gastos desnecessários em suplementos dietéticos e "medicamentos" alternativos que não têm os efeitos que prometem.
As pessoas não podem continuar a ser enganadas por publicidade "milagrosa" e recomendações absurdas, perante o silêncio cúmplice das autoridades de Saúde e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
O conselho que posso deixar a todos os portugueses é que duvidem de publicidades que apenas querem vender produtos e que consultem sempre um médico! Os médicos não vendem produtos nem ganham dinheiro a vender medicamentos, pelo que não têm conflitos de interesse quando informam os seus doentes. Confie no médico que conhece e que o conhece a si e não acredite em promessas de falsos milagres.
*BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS