1 - A extrema-esquerda costuma distinguir entre as ditaduras boas, as de esquerda - Cuba e, por vezes, Coreia do Norte - e as más, as de direita, como o Chile de Pinochet.
Corpo do artigo
Como se a ditadura não fosse um mal, em si. O PSD vai pelo mesmo caminho no que diz respeito à liberdade de imprensa: a boa, quando é contra os outros e Sócrates, em particular, e a má, quando é contra os seus. Segundo Paulo Baldaia, Rui Rio terá pressionado para que a Direcção deste jornal fosse substituída. Quando comparado com Jardim é menino de coro. Com estes telhados de vidro, o decoro recomendaria prudência nas declarações sobre o lamentável caso TVI. Mas não! Atentado à democracia foi o mínimo que se ouviu. Para a falta de pudor ser total, as declarações quanto à asfixia democrática teriam tido na ilha da Madeira o cenário ideal. Sugere-se uma alteração do lema de campanha: a verdade conveniente.
2) Em defesa da sua dama, Moniz invocou profissionalismo e seriedade. Passe o trocadilho fácil, mas esta da "seriedade" faz-me rir. Como aqui demonstrei, os ditos profissionais sérios foram capazes de construir uma notícia, citando um artigo do Times, fazendo uma tradução que subvertia o sentido de várias frases, manipulando-a para servir os seus propósitos. Perante tanta desfaçatez tratando-se de peças escritas e publicadas, quem nos pode garantir que o sentido das pretensas declarações obtidas não era adulterado, já para não ir ao ponto de sugerir que foram, pura e simplesmente, inventadas? Muito do jornalismo feito em Portugal é de fraca qualidade. Seria ilusório presumir que os jornalistas poderiam ser uma classe à parte neste país. Daí até se mentir e distorcer factos vai a distância que separa a honestidade do impudor.
3) Sócrates esteve presente na inauguração da base da Ryanair no Porto. Fica-lhe bem. Sei quem ficou contente: Rui Moreira, um defensor e militante desta estratégia desde a primeira hora. A base é, à partida, uma boa notícia para o Norte. Mas também pode ter efeitos contraproducentes, tirando espaço a outras companhias, nomeadamente as que asseguram ligações transcontinentais, indispensáveis para a diversificação comercial da nossa base económica. Problemas que uma gestão regionalmente empenhada não deixaria de ter em conta. O que nos remete, de novo, para o modelo de gestão do aeroporto. Um assunto que, convenientemente, o primeiro-ministro parece ter ignorado. Um silêncio elucidativo!
4) O PC e o BE têm acenado com a necessidade de nacionalizar algumas empresas, com a EDP e a Galp à cabeça. Argumentam que, desse modo, os lucros poderiam ser repartidos por todos, por exemplo baixando os preços. Tantas são as complicações que essa acção implicaria que se percebe tratar-se de um "sound bite" com fins eleitorais. Mas há mais. Por conveniência, os proponentes preferem esquecer que essas empresas também podem gerar (e geraram, durante muitos anos) prejuízos. Também a repartir por todos, usufruam ou não dos seus serviços. Como ainda é o caso da TAP, exemplo acabado de como as empresas públicas podem ser tornadas reféns de interesses corporativos e de grupo e desviadas do tal idílico propósito. O que fica ainda mais facilitado se o ministro da tutela actuar como Mário Lino.