Paul Joseph Goebbels foi o ministro da propaganda do regime nazi. Muito antes da derrocada final dos militares fiéis a Hitler, Goebbels disse que, em caso de derrota, os alemães saberiam fechar a porta atrás de si de modo a nunca serem esquecidos durante séculos.
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Não será essa mesma linha de raciocínio que caracteriza Vladimir Putin e os seus apaniguados? O que o ministro hitleriano expressou de forma eloquente prende-se com um desiderato de muitos políticos: o acesso à História, mesmo que tal suceda à custa da destruição.
O paralelo entre o regime nazi e o instituído atualmente por Putin não é tão despropositado quanto possa parecer. As reticências à condenação da invasão russa da Ucrânia por parte do Partido Comunista Português podem induzir em erro. Segundo o estudo Foresight Portugal 2030, da Fundação Gulbenkian, "a democracia soberana russa é um regime nacionalista autoritário, onde a nostalgia do império soviético não exclui a rejeição do comunismo e da sua ideologia totalitária". O regime pós-comunista não conseguiu nem reinventar a Rússia no pós-Guerra Fria, nem eliminar os vícios da autocracia. Na verdade, o reforço do marxismo-leninismo, continuador da revolução soviética, está mais presente na China do que no regime de Putin.
Perante o vazio gerado pela queda da URSS, os russos sentiram-se perdidos. Como lembra Hannah Arendt, filósofa política alemã de origem judaica, o ativismo dos movimentos totalitários, que não exclui a violência extrema - como temos constatado na guerra a decorrer na Ucrânia -, atrai de igual forma a elite intelectual e a ralé. O que todos procuram é o seu reconhecimento individual e, logo, da nação como um todo, resultado da soma das partes. O ativista russo, tal como o nazi, procura definir-se pelo que fez e não pelo que possa parecer ter feito em prol de um ideal. Como dizia Sartre, "és a tua vida".
*Editor-executivo-adjunto