<p>Entrámos na semana decisiva para consolidar a apresentação de um dos mais importantes Orçamentos do Estado (OE) que o país tem pela frente há muitos anos. Os primeiros sinais de algum desanuviamento - e até alguma concórdia - entre Governo e PSD agravaram-se, após uma desnecessária tirada do ministro das Finanças. A truculente troca de palavras, no Parlamento, entre Ferreira Leite e Sócrates não terá deitado tudo a perder, mas é um sinal de irritação contraproducente. Num processo negocial tão delicado como este, qualquer escorregadela é perniciosa. </p>
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Sim, é verdade: se os dois principais partidos do arco do Poder não se entenderem, sobra sempre o CDS/PP de Portas, já que, com a Esquerda à esquerda dos socialistas não pode contar-se (quer dizer: poder, pode, desde que se descubram várias minas de ouro capazes de cobrir as depesas que eles propõem). Sucede que um acordo entre PS e PP é curto. Só uma coisa faz sentido neste OE: desenhar já um plano de médio prazo que ajude a sanear as finanças públicas, sem esquecer que a economia continua a precisar de estímulos.
Há quem veja nisto a verdadeira quadratura do círculo. E, em certo sentido, é. Como pode o Governo controlar verdadeiramente a despesa do Estado e, ao mesmo tempo, continuar a injectar milhões na economia, de modo a reanimá-la? Não há nenhuma receita milagrosa - e por isso é tão importante o comprometimento responsável do PSD neste dossiê. O que está em causa é, a curto prazo, a estabilidade social do país e, a médio e longo prazo, o seu futuro. Simplesmente.
De modo que, seja qual for a receita, há vários ingredientes inescapáveis: realismo e bom senso, desde logo. Mas também verdade, que no caso deve traduzir-se na capacidade (melhor: na obrigação) de contar toda a verdade aos portugueses. É preciso dizer-lhes que, sem os sacrifícios de hoje, o nosso modo de vida só tende a piorar. Voltam os sacrifícios? Infelizmente, voltam.
É certo que o Governo, na ânsia de controlar os danos de imagem, tem caído na tentação de dar sinais contraditórios com isto, sem perceber os custos da estratégia. Os sindicatos da Função Pública deram o primeiro sinal, ao avisar que não estão disponíveis para pagar a crise, logo eles que tiveram um aumento real do poder de compra perto dos 4% no ano passado. Terão o Bloco e o PCP ao seu lado, como se percebe. Convinha que não tivessem o PSD (e o PP). A estes compete ajudar a desfazer o nó górdio que nos estrangula.