Corpo do artigo
A menos de um mês para as eleições norte-americanas, os média noticiosos interrogam-se acerca de qual será a “surpresa de outubro”. Há décadas que os candidatos políticos temem revelações tardias. Que acabam sempre por acontecer. Neste escrutínio, os analistas coincidem em reconhecer que eventuais denúncias poderão afetar mais Kamala Harris do que Donald Trump, que já foi acusado de (quase) tudo.
O termo “surpresa de outubro” foi cunhado pelo diretor de campanha de Ronald Reagan, William Casey, em 1980, adquirindo outra popularidade quando este fez passar para os jornalistas a mensagem de que o candidato opositor Jimmy Carter anunciaria um acordo de última hora para libertação de reféns no Irão a fim de beneficiar a sua reeleição. Ao longo dos anos, as notícias envolvendo os candidatos em práticas pouco recomendadas ganham sempre outra dimensão no mês anterior às eleições, ou seja, em outubro.
Desta vez, ainda não houve nenhum facto disruptivo a envolver Trump e Harris, mas ainda há muito tempo para que os jornalistas disso se ocupem. Por enquanto, os média sublinham duas crises que poderão ser perigosas, sobretudo para os democratas. A extensão do conflito no Médio Oriente e o consequente medo de uma guerra mundial; e, de forma mais próxima, e, por isso, com mais impacto, os estragos já causados pelo furacão Helena, com expressividade na Carolina do Norte, e a devastação provocada agora pelo furacão Milton, que está a atingir o coração da Florida. Falamos de fenómenos naturais com enorme repercussão na vida de muitos milhares de americanos que vivem em estados muito sensíveis do ponto de vista dos (des)equilíbrios dos votos. E os políticos não ignoram, de todo, isso.
Testando a capacidade de resposta do Governo a este tipo de calamidades, os furacões constituem-se como palco central para disputas políticas, potenciando tensões entre a administração central e os governadores dos vários estados. Em comícios, Trump tem reiteradamente responsabilizado Biden e a sua equipa (ou seja, Harris) por aquilo que considera ser o abandono das populações locais. O presidente dos EUA não tardou a responder, acusando o rival de mentir. Na Florida, Ron DeSantis recusou um encontro com Kamala Harris, argumentando que, com esse gesto, queria evitar ser envolvido na campanha eleitoral.
Por enquanto, os resultados das eleições de 5 de novembro são imprevisíveis. Tudo pode acontecer, principalmente porque na estrada está um candidato completamente imprevisível que arriscará sempre tudo. E é exatamente aí que está o risco que o mês de outubro comporta.