Sabe-se que um dos determinantes do aumento da produtividade e, portanto, do crescimento económico e da riqueza dos países, é o nível de qualificação dos trabalhadores. Porém, paira no ar uma pergunta: porque crescem pouco em Portugal a produtividade e a economia apesar do aumento das qualificações registada nos últimos anos? O que está a falhar: o nível e a adequação das qualificações proporcionadas? Ou a capacidade da economia para absorver trabalhadores mais qualificados? A questão tem sentido, mas devemos evitar uma simplificação do problema e colocar o ónus do lado do sistema de ensino ou do lado das entidades empregadoras.
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O aumento do nível das qualificações tem um impacto positivo na produtividade e no crescimento económico. A recuperação do nosso atraso histórico, com fortes investimentos no sistema de educação, na formação profissional, no sistema de ensino superior e na formação avançada permitiu dar um salto muito significativo no que respeita à qualificação das gerações mais jovens. Mas o que fizemos não é suficiente. Permanece no mercado de trabalho uma percentagem muito elevada de trabalhadores adultos, grande parte deles adultos jovens, sem a escolaridade básica ou secundária. Se não se investir na aprendizagem ao longo da vida, na formação continua destes trabalhadores para que atualizem, completem ou adquiram as qualificações necessárias aos desafios do mundo atual, demoraremos décadas a conseguir que a qualificação dos jovens tenha pleno impacto na economia. Demorará o tempo da substituição de gerações, não o da formação dos mais jovens.
Nesta reflexão falta, contudo, uma variável: os salários. A produtividade aumenta quando há um ambiente para tal favorável: concorrência, elevação do nível de qualificação dos trabalhadores, inovação tecnológica e organizacional, modernização das infraestruturas públicas, estímulos e apoios do Estado ou introdução de melhorias nos serviços públicos. Mas a produtividade é também estimulada pela pressão para o aumento dos salários e das remunerações. A prática de baixos salários, sobretudo no caso dos mais qualificados, não estimula a produtividade. Como não estimula, entre os menos qualificados, o desejo e a procura de mais qualificação.
Se é verdade que para aumentar os salários é necessário produzir riqueza, é também verdade que uma distribuição menos desigual da riqueza pode ter um impacto positivo na produtividade.
Professora universitária