Grande parte do chamado Terceiro Mundo anda subnutrido e a outra metade combate o excesso de peso. Bom, talvez 1% das pessoas estejam satisfeitas com o seu estado físico - quer dizer, sem diabetes, problemas de coração, tensão alta, alergias, etc... Na verdade, algo está errado no nosso quotidiano mas como é mais fácil ir ao médico e comprar medicamentos do que mudar hábitos, a ilusão vai até onde a carteira chega. Não por acaso, as indústrias farmacêutica e de cuidados médicos são das maiores do Mundo.
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Estas questões do nosso tempo não se confinam à esfera individual: são de toda a sociedade desenvolvida e valem muitos milhões. E, no entanto, é difícil encontrar o fio da meada que nos ajude a compreender o que realmente se pode fazer para melhorar a saúde sem o sofrimento das 1001 dietas para tudo voltar ao princípio uns tempos depois - o conhecido "efeito ioiô".
Escrevo este texto porque me interesso pela nova informação nesta área e que saídas pode trazer a ciência para esta brutal epidemia do Mundo desenvolvido. E uma das fórmulas interessantes de analisar é a da procura de melhor saúde ou menos peso através da desintoxicação - "detox" como agora é moda dizer-se. Claro, já quase toda a gente ouviu falar disto mas é difícil compreender que uma consistente remoção de toxinas do organismo seja a principal fonte para se obter saúde e menos obesidade a longo prazo - mais do que as dietas ou até exercício físico. Estes dois são fatores importantíssimos, obviamente, mas algumas "teorias detox" consideram que para se emagrecer e obter saúde ao longo da vida, 15% dependem do exercício, 35% da alimentação e 50% resultam de se deitar fora o que está a mais no corpo - toxinas acumuladas ao longo dos anos.
Bom, mas o que significa isto? O que já muitas vezes se ouviu: se comemos o que o organismo não é capaz de absorver (químicos artificiais presentes nos alimentos, gorduras transformadas, toxinas absorvidas pela pele, uma constante obstipação...), o nosso corpo, inteligentemente, tenta neutralizar esses resíduos que se acumulam e cercam as células envolvendo-os em água (a famosa retenção de líquidos) e deixa-os ficar nos sítios do costume até que os consigamos deitar fora. Daí a celulite visível das senhoras ou a barriga frontal dos homens.
Uma das constatações evidentes dos nossos dias é o facto de a perda de peso não acontecer, de forma duradoura, apenas com dieta e exercício. Por vezes acabam por enfraquecer ainda mais o organismo. A dieta sem acompanhamento médico quase sempre impede refeições completas e equilibradas para que o corpo tenha energia suficiente e o cérebro boas gorduras para pensar; o exercício físico "obrigatório" e intensivo vai buscar açúcares e proteínas às reservas musculares. E muitas vezes tanto as dietas como o exercício vêm acompanhados de produtos sintéticos (pastilhas, bebidas) que ainda intoxicam mais o organismo. No final, as pessoas estão desequilibradas metabolicamente ainda que o rosto pareça mais magro e tenha havido perda de peso. Sim, a balança marca menos uns quilos mas o "lixo corporal" pode ter aumentado ainda mais.
Onosso corpo tem histórico de milhões de anos (enquanto a nossa cabeça nasceu ontem e não sabe disso...). O que começa a suceder, devagarinho, depois do massacre da dieta? O corpo repõe o peso dia a dia porque nada de substancial aconteceu a não ser "privação". E a "fome" vai enganando o cérebro. Quando damos conta temos ainda mais peso do que antes da dieta.
O nosso organismo foi feito para ter recursos armazenados porque a preservação da espécie dependia disso: éramos caçadores que comíamos uma vez por dia, quando conseguíamos. O nosso corpo fará tudo para que não morramos à fome - mesmo que morramos obesos. Em milhões de anos o ADN humano aprendeu a defender-se da fome mas em 50 anos de alimentação industrial massificada não sabe como processar tantos químicos, gordura e açúcar, sempre disponíveis a todas as horas do dia ou da noite. Ora, mudar hábitos é mesmo o mais difícil... Conseguimos? (continua na próxima semana)