Quando as expectativas são frustradas, perdem todos. É o caso do poder público
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E se um dirigente público convocasse sociedades científicas e associações e não aparecesse para audição nenhuma? Vivemos tempos de compromisso palavreado sem exequibilidade e efetiva execução. Por vezes, trata-se de muitas promessas que ganham votos, mas que depois se diluem nas marés das estradas complexas da construção de soluções conjuntas e participadas.
Sobre esta discussão, como representante de uma sociedade científica, tenho muitas questões. Afinal, o que são os prestadores de serviços públicos? E se um dirigente de um serviço público adia uma reunião previamente marcada com entidades da sociedade civil, este é um ato que deveria ser fiscalizado? O que está em causa? Que implicações existem?
E a audição das entidades da sociedade civil que nomeiam os seus representantes públicos, uma vez aceite, deve ser assumida pelo dirigente que a aceitou, com as responsabilidades inerentes?
Quantas vezes as entidades da sociedade civil sem fins lucrativos e com uma enorme responsabilidade social para as comunidades têm dificuldade em fazer o seu trabalho por falta de estrutura, de financiamento? Quantas vezes é difícil e tem custos diversos juntar os membros para estas sessões, com algum dirigente que representa essa área de tomada de decisão? Custos financeiros, de tempo, de pedido de ausência dos locais de trabalho.
Aquilo que desejo é que a ética, o compromisso e as vozes das sociedades civis e da governança trabalhem um pouco mais para além dos coutos, reservados apenas a alguns, e se faça uma efetiva política pública com todos, em Portugal.
Por enquanto, a democracia assenta na eleição do povo dos seus dignos representantes. Esta profundidade faz-nos refletir sobre a responsabilidade enorme de quem governa, como efetivo "prestador público" da vontade e da ideia popular. E este prestador público tem também responsabilidades para com a sociedade civil: ouvir, preocupar-se, servir e responder às preocupações das pessoas que estas organizações representam.
Em saúde, é ainda mais crítico ouvir a sociedade. As falhas trazem crateras, brechas difíceis de preencher com desculpas. Quando há compromisso, há tempo. Ou, pelo menos, se há um compromisso, deveria haver tempo. Sobre isto, lembro Agostinho da Silva sobre o poder:
Eu não quero ter poder
mas apenas liberdade
de falar aos do poder
do que entenda ser verdade.

