O que está em causa nas eleições deste sábado é o regresso do PSD ao lugar que deve ocupar na sociedade e na política. É saber se os valores sociais e económicos que representam vão ter a expressão apropriada na vida portuguesa ao longo dos próximos anos. Aquilo que o país quiser ser dependerá bastante disso: saber o que conta o PSD.
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Ponto prévio: integro, a convite do próprio, na qualidade de independente e com todo o orgulho, a comissão de honra da candidatura de Pedro Santana Lopes à liderança do PSD. Não sendo eu militante, não sou eleitor nestas "diretas", o que não me inibe de ter preferência nesta contenda.
Sendo, como é, um esteio da democracia portuguesa, o PSD enfrenta um dos momentos de maior dificuldade da sua história. O que é dizer bastante, para um partido que já viveu o trágico desaparecimento de dois líderes em funções - Sá Carneiro, no atentado de Camarate, e Carlos Mota Pinto. A crise do PSD não é de liderança. A crise do PSD percebe-se e explica-se através de três palavras: identidade, estratégia e comunicação.
Com Passos Coelho, o partido que recuperou o país da bancarrota de origem socialista e que o devolveu de volta ao crescimento agravou a distância face aos portugueses e ao seu quotidiano. Sem mensagem e sem esperança, é naturalmente difícil receber a simpatia do eleitorado. Não espanta que o PSD tenha tido em 2017 dos piores resultados de sempre em eleições autárquicas e que fosse praticamente varrido dos grandes centros urbanos.
Um cidadão comum terá dificuldade em encontrar no PSD um projeto ou uma ideia clara para o país. Um militante do PSD não conseguirá perceber que linha estratégica orienta o seu partido. Tudo somado, é natural que nem a disputa nas eleições internas provoque grande agitação mediática. Perdido o contacto com o povo e quebrada a ligação às elites urbanas, o risco da irrelevância política está demasiado próximo.
Face ao que se passa em algumas democracias europeias, onde os movimentos de cidadania vêm ocupando parte do espaço dos partidos tradicionais, a situação poderá não ser tão calamitosa, mas deveria ser pelo menos preocupante. Sobretudo porque a solidez do PSD é fundamental para que Portugal tenha um futuro equilibrado, moderno e próspero. O país e a democracia precisam do PSD.
Se o PSD não preencher a área política que os eleitores lhe reconhecem, esse território não ficará órfão por muito tempo. E acabará inevitavelmente dividido e partilhado entre a ala mais moderada do PS, o CDS - cada vez mais um partido do arco da governação -, e por movimentos independentes de cidadania.
Seja qual for o vencedor, muito do que vier a ser o país nos próximos anos dependerá daquilo que o PSD puder ser. Eu, como disse, não voto. Mas não deixo de ser um otimista.
* EMPRESÁRIO E PRESIDENTE ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO