Quando uma palavra entra na Língua Portuguesa mudando de classe gramatical, sem alteração da forma, diz-se que sofreu uma conversão ou derivação imprópria. Existem outros exemplos na nossa língua. É o caso de Porto (nome próprio de cidade), porto (nome comum); jantar (verbo), o jantar (nome); pobre (adjetivo), o pobre (nome), entre outros.
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No entanto, no caso de Pelé, tratando-se de um nome próprio de pessoa, apelido de Edson Arantes do Nascimento, nascido em 1940 e que foi considerado o maior atleta de todos os tempos, julgamos que vulgarizar o seu nome, transformando-o num adjetivo, retira-lhe toda a individualidade que lhe aparece associada. Quando se fala de Pelé, todos sabemos de quem se trata e a Língua Portuguesa tem mecanismos muito mais perfeitos e requintados para estabelecer comparações do que se imiscuir, rebaixando-o a um adjetivo.
Na nossa perspetiva, seria preferível dizer: «Ele é um como Pelé», utilizando uma comparação ou «ele é um Pelé», através de uma metáfora.
Se fôssemos por essa ordem de ideias, teríamos Camões transformado em adjetivo. Porém, não seria a mesma coisa, pois Camões há só um. É inigualável. É incomparável.
Para concluir, citaremos Saramago: "A palavra deixou de ter conteúdo e de ter qualquer coisa dentro, é pronunciada com uma leviandade total."
Há que repensar a forma como se banaliza determinadas palavras da Língua Portuguesa, porque podemos deixar de acreditar nelas.
*Professora