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Na minha terra, utiliza-se bastante uma expressão de modéstia opinativa, depois de falar sobre qualquer tema que temos por não consensual: digo eu, não sei! No Brasil, chama-se "achismo" à tendência natural para emitir opiniões, a propósito de tudo e de nada, muito "conversa de mesa de café". Os italianos criaram a expressão "tudólogos" para qualificar os catedráticos públicos de generalidades - e os portugueses conhecem bem alguns.
Lá no fundo, todos "achamos" alguma coisa sobre quase tudo, sobre o que conhecemos bem ou apenas "pela rama". Raras vezes guardamos para nós essas ideias, geradas no que lemos ou ouvimos a alguém que temos por "abalizado" (adoro este conceito antigo).
As redes sociais "democratizaram" o exercício de troca de opiniões e deram à generalidade dos cidadãos um "altifalante" para dizerem o que pensam junto de um público mais alargado. Com franqueza, não tenho a certeza de que o esclarecimento coletivo tenha ganhado muito com isso, mas essa seria uma longa conversa.
Alguns leitores estarão a perguntar-se: "Mas então ele não tem um blogue diário, uma página no Facebook, uma conta no Twitter e colunas na Imprensa?" Claro que sim. E nelas escrevo o que penso sobre vários temas. Quase sempre, porém, apenas sobre aquilo de que julgo saber alguma coisa. Ou, quando isso não acontece, faço um "disclaimer" relativizador, do género "digo eu, não sei".
Uma passagem pelo Governo, em tempos idos, refreou em definitivo a minha pulsão para dar opiniões de "mesa de café". Nesses anos, confrontado com a necessidade de estudar melhor algumas questões, dei-me conta da complexidade de temas sobre os quais, antes, "mandava bitaites" sem grande rigor. E passei a ser muito mais cuidadoso ao pronunciar-me sobre assuntos distantes das áreas onde atuei ou onde exerço atividade profissional.
Ninguém nunca me ouviu uma palavra sobre se os hospitais devem ser centralizados ou regionalizados, sobre se deve haver grandes esquadras ou polícia de proximidade, sobre opções em matéria de ensino, se o novo aeroporto devia ser na Ota ou em Rio Frio, sobre se deve ou não haver TGV, etc. São assuntos sobre que não tenho opinião, decisões que, no quadro da democracia representativa que acerrimamente defendo, entendo que devem ser decididos por quem elejo para gerir o país. E por aqui me fico.
"Olha lá! Então nem uma palavra sobre o juiz com filho na escola subsidiada, sobre o secretário de Estado que "galpeou" para o Europeu, sobre o boato da privatização da ADSE, sobre o mito da introdução do sol & vistas no IMI?" - já imagino alguns amigos a perguntar. Não! Sobre isso, só a tagarelar debaixo do toldo da praia...
*EMBAIXADOR