Corpo do artigo
A imagem de Donald Trump e Ursula von der Leyen a anunciar o acordo alfandegário entre a Europa e os EUA não terá sido bem o que os europeus esperavam. Soou demasiado a cedência à política espetáculo de que o presidente norte-americano tanto gosta e os termos alcançados ficam aquém das expectativas. Basta lembrar que o Reino Unido tem um acordo idêntico com taxas de 10%.
De facto, se a Europa, tal como Von der Leyen disse na conferência de Imprensa, constitui uma das duas maiores economias mundiais, uma reciprocidade de 15% dá a entender que abdicou de usar a força correspondente a essa posição em benefício de uma paz forçada e assente em fundações pouco sólidas. Evitou-se, pelo menos, a tão temida instabilidade dos mercados financeiros.
Além da machadada em vários setores económicos, assistimos a mais um passo na degradação da forma como os cidadãos olham para a União Europeia, porque onde se esperava ver um sinal da força conjunta, vemos um acordo que está longe de suportar essa lógica e que pouco diferente é do que o que quase todos os países têm conseguido individualmente. Onde está, afinal, a força dos negociadores europeus?
É verdade que ninguém queria uma guerra comercial com os Estados Unidos, que traria certamente consequências bem mais gravosas do que as taxas alfandegárias de 15%, mas o acordo negociado apresenta-se demasiado condescendente face às birras de Donald Trump.
E mesmo que além do pacto central conste ainda uma série de isenções e contrapartidas, o que se vai conhecendo do dossiê não permite aos líderes europeus qualquer tipo de regozijo: além das taxas de 50% para o aço e o alumínio e da obrigação de gastar 750 mil milhões de dólares em energia, entre várias alíneas que vamos conhecendo aos poucos, ainda tivemos de ouvir Trump perorar sobre os malefícios das energias renováveis, uma das grandes apostas europeias.