Com 52 por cento da população com a vacinação completa, Portugal está ainda longe de poder respirar de alívio. No entanto, nos últimos dias, desenvolveu-se uma noticiabilidade em torno do fim total das restrições. Que não será para agora, muito embora a mensagem que tem passado seja a de uma libertação quase automática. E isso comporta ainda riscos elevados.
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Quem esta semana passou por algumas praias algarvias ficou com a ideia de que a pandemia passou. Para além das multidões que se juntaram à beira-mar, percebe-se já uma vontade férrea de regressar àquilo que foi o verão de 2019. Ora, se a vida ao ar livre permite que se aligeirem algumas regras de proteção individual, por extensão não será aconselhável adotar determinados estilos de vida típicos desta altura do ano. Por exemplo, os convívios alargados com os amigos.
Este fim de semana, um número substancial de portugueses entra de férias. Para muitos, este parece ser um tempo pós-covid. Não é. E deveria ser essa a mensagem correta a passar. Também não é a melhor opção anunciar o que se pretende fazer no fim do verão. O tempo certo para falar disso ainda não chegou. Agora, a pergunta que se impõe é muito simples: que agosto podemos ter? A resposta não é clara, porque o essencial do que há a fazer perde-se no meio do ruído acerca daquilo que eventualmente será possível a partir de setembro.
Ainda que os especialistas consigam delinear por antecipação muitas medidas, não são capazes de controlar algumas variáveis críticas. Por exemplo, a percentagem exata de população que estará vacinada daqui a um mês, a probabilidade do surgimento de novas variantes e as consequências de um regresso súbito à normalidade. E isso deveria suscitar todos os cuidados das autoridades políticas e de saúde.
Espera-se, pelo menos, que Governo e Direção-Geral da Saúde não cedam à tentação de tornar (mais) irregular a comunicação sobre a evolução da pandemia. Avançou-se já que o ponto de situação epidemiológico do país poderia passar a ser semanal. Seria um erro. Por várias razões: porque o retrato seria menos preciso devido às oscilações diárias dos registos, porque descontinuava um agendamento nos média noticiosos que tem um efeito preventivo grande e porque se passava uma mensagem de desvalorização da situação.
Precisamos todos de férias mais descansadas, mas convém não deitar tudo a perder em agosto. Aliviar medidas não implica regressar aos estilos de vida de 2019. Isso ainda não é possível.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho