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No fim, ficou-me isto: que maravilhosa sala de visitas tem a nossa cidade. E que bem estiveram todos os presidentes da Associação Comercial do Porto (Rui Moreira incluído) pela sua preservação continuada.
Mas o debate com os candidatos às autárquicas no Porto, transmitido na SIC, embaciou o esplendor mourisco das paredes.
O símbolo glorioso do trabalho e do sucesso dos comerciantes do Porto não teve correspondência num debate morno, de mornas ambições e mornos projetos.
Talvez a moderação devesse ter tido outro fio de prumo. Em vez de estimular a conversa sobre os candidatos, poderia ter forçado o debate sobre as propostas (houve quem cronometrasse e tivesse registado o minuto 36 como o primeiro momento em que se falou do futuro da cidade).
Assim, ficou tudo na mesma. Rui Moreira não pediu maioria absoluta. Pizarro e Álvaro Almeida também querem só ganhar. O BE não se coliga com Rui Moreira e Pizarro prefere, obviamente, recoligar-se com Rui Moreira do que casar com Ilda Figueiredo.
As cautelas e os caldos de galinha foram tantos que Rui Moreira, de inovador independente passou, num ápice, a líder de 13% de uma solução de continuidade. Depois de Pizarro se ter apropriado de 87% do seu programa.
O que não estará muito mal visto já que o atual presidente da Câmara do Porto apenas reivindica as contas em ordem (que recebeu de mão beijada) e a animação cultural da cidade.
Ora, até quem possa discordar da atual liderança sabe que se fez mais.
Álvaro Almeida, talvez porque a condução do debate não lho tenha permitido, não foi suficientemente claro quanto ao que propõe, o que faz muita falta no caso de um candidato que tem, ainda, de se dar a conhecer.
Só João Teixeira Lopes tocou no ponto: menos 5000 pessoas no Porto.
Mais do que tudo, Portugal debate-se com um inverno demográfico de extremo rigor.
Esta ameaça devia condicionar todo o discurso público. Da rede de infraestruturas, ao tipo de serviços solicitados por uma população envelhecida, à vocação multifacetada que, neste caso, o Porto terá de desenvolver e que deveríamos ser capazes de estimular, o debate que se impõe é complexo e profundo. E alguma vez teremos de saber puxar pelo fio à meada.
Um candidato à Câmara do Porto tem obrigação de o tentar e devia ser capaz de apresentar propostas de soluções que resultassem de uma rede institucional forte e coerente. Um rede onde pontuassem os nós do Conhecimento, do Desporto, do Comércio e da Vitivinicultura, do Turismo Cultural e Patrimonial, da Economia Social.
E, sobretudo, sem perder de vista a responsabilidade metropolitana que lhe incumbe e que será, mais uma vez, irresponsável iludir.
ANALISTA FINANCEIRA