Chegamos ao último mês de um ano de transições inacabadas, de promessas cumpridas pela metade. O desconfinamento que fizemos desde março passado quase nos levou a pensar que o vírus desaparecera. A altíssima percentagem de vacinação do país alargou o otimismo. Quisemos ignorar o inverno que temos pela frente e o mundo de fronteiras abertas que, à escala global, acolhe uma imparável mobilidade.
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Se não interpretarmos a frase como uma resposta à prudência manifestada ontem pelo primeiro-ministro quanto a um eventual aumento das restrições por altura das festas natalícias, o presidente da República foi claro quando disse que os portugueses terão o Natal que quiserem. Com o país solto do estado de emergência, o controlo da circulação torna-se difícil e, mesmo que isso imperasse, cada um de nós é livre para adotar os comportamentos que quer.
Quando comparado com países como a República Checa, a Alemanha ou a Áustria, Portugal apresenta um retrato epidemiológico sem turbulência significativa. Todavia, convém seguir com atenção a curva dos internamentos, porque disso depende o (des)equilíbrio do Serviço Nacional de Saúde. Ainda que esta época nos conduza mais ao hospital, a saturação dos sistemas médicos depende, em grande parte, do modo como vamos prevenindo a doença. Ora, chegados aqui, ninguém poderá dizer que faltam conhecimentos básicos a esse nível. Nunca como agora, ouvimos tantos médicos e investigadores no espaço público mediático dizer-nos o que devemos fazer para contrariar infeções.
Pelas notícias dos últimos dias, salienta-se uma corrida em massa aos autotestes, o que demonstra uma preocupação individual e um cuidado coletivo. É de louvar. Paralelamente a isso, há que ajudar os mais velhos a tomar a dose de reforço. É importante que a população mais idosa entre no inverno mais protegida. É igualmente relevante que se priorizem aqueles com idades compreendidas entre os 5 e os 12 anos, hoje a franja da população mais infetada. O debate tem andado equilibrado, mas aqui e ali lá vai sobressaindo algum ruído. É preciso criar em todos, sobretudo nos pais, a força da convicção de que também os mais novos devem ser inoculados. É precisamente com eles, com esse futuro, que temos de continuar um processo de vacinação que tem sido de grande sucesso em Portugal.
Que dezembro teremos? O que quisermos, disse Marcelo Rebelo de Sousa. E disso dependerá o arranque de 2022, poder-se-ia ter acrescentado.
*Prof. associada com agregação da UMinho