O PSD emitiu, ontem, um comunicado escrito em inglês para que quem nos ouve e vê lá fora (supostamente pouca gente, para além dos nossos credores), fique a conhecer a determinação presente nas veias da liderança social-democrata. Com ela, Passos Coelho e companheiros almejam mudar o triste fado das nossas vidas. Como? Com um Governo sustentado por uma "coligação alargada".
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O comunicado não acrescenta um átomo à resolução dos problemas dos país, nem, como é óbvio, servirá de consolo aos que, todos os dias, duvidam - e com razão - da nossa capacidade para pagar o que devemos. Ainda assim, o texto para consumo externo tem uma virtude interna. Nele, o PSD sublinha, com bastante clareza, que "a adopção de medidas de austeridade adicionais e de reformas estruturais requer um consenso alargado, tanto ao nível político como social, por forma a assegurar a sua aceitação, a sua aplicação efectiva e a sua sustentabilidade".
Tradução: o PSD sabe - e ainda bem - que, com ou sem flique--flaques à retaguarda, o caminho está traçado: não saíremos daqui sem ajuda externa. Só falta escolher o modelo: à grega, à irlandesa ou, como Sócrates atabalhoada e desesperadamente tentou, através de uma terceira via, em princípio menos dolorosa para os indígenas. E, sendo assim, é preciso assumir já que os sacrifícios continuarão por muitos e maus anos. Com uma "nuance" em relação a hoje: os custos políticos devem ser equitativamente distribuídos pelos partidos da "coligação alargada".
A tese é bonita, mas tem um problema: quem são os parceiros da "coligação alargada"? Passos Coelho, Portas e Sócrates? Passos Coelho e Portas, com Sócrates a comandar o PS na Oposição? É possível produzir reformas estruturais com líderes que não se estimam, para dizer o menos?
Uma embrulhada das grossas, a que nem o presidente da República pode deitar mão. Quem entenderia, por exemplo, que Cavaco tentasse uma solução no actual quadro parlamentar que não incluisse o actual primeiro-ministro, depois de, como se espera, Sócrates ser reeleito secretário-geral do PS?
A situação em que estamos é daninha e reclama eleições. Infelizmente, não está garantido, longe disso, que esse acto de legitimação democrática e limpeza ética traga consigo os elementos de uma equação só um bocadinho menos complicada do que a actual. A menos que no PS se conclua, num assomo de bom senso e em função de uma derrota nas urnas que se adivinha pesada, que é tempo de mudar de vida. Vale o mesmo dizer: é tempo de mudar de líder. A voz ao PS, portanto.