Que futuro para a GNR? Qual o preço a pagar por tamanha desvalorização?
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Os últimos dez anos têm sido marcados, no seio das Forças de Segurança, por um crescente sentimento de desalento e pela debandada da sua maior riqueza: os recursos humanos. Cada vez mais profissionais procuram no setor privado ou no estrangeiro condições salariais dignas e uma competitividade que, hoje, já não encontram nas Forças de Segurança.
A estagnação remuneratória prolongada e a perda acentuada de poder de compra inverteram por completo o padrão que se verificava na década anterior. Nessa altura, qualquer jovem que ingressasse na GNR auferia um vencimento próximo de dois salários mínimos, e um Sargento, categoria intermédia da estrutura de comando, recebia em média o equivalente a três. Atualmente, um Sargento da GNR não ultrapassa os dois salários mínimos – valor manifestamente incompatível com o grau de exigência e responsabilidade que as suas funções impõem.
O regime remuneratório na GNR é crucial para a atratividade e fixação de profissionais qualificados. A quebra abrupta do poder de compra já compromete, em muitos casos, uma vida familiar minimamente estável e compatível com os padrões exigíveis a quem serve nas Forças de Segurança. Casos recentes – que devem merecer reflexão urgente – apontam para o risco de desagregação ética, com profissionais tentados a recorrer a atividades ilícitas, paralelas ou mesmo a atos de corrupção, incompatíveis com a dignidade da profissão.
Os elevadíssimos padrões éticos que são inalienáveis à função de agente de autoridade, o forte sentido de missão pública e o juramento de servir o país – mesmo com o sacrifício da própria vida – impõem ao Estado uma responsabilidade imperiosa. Cabe ao poder político honrar os profissionais afetos às carreiras especiais, fazendo jus a essa designação na verdadeira aceção da palavra.
A qualidade dos militares que servem na GNR será sempre o reflexo das políticas seguidas. Os Sargentos da Guarda depositam enorme expectativa na nova Ministra da Administração Interna. É urgente inverter esta trajetória.