Corpo do artigo
No ano passado, quando se assinalavam os 50 anos do 25 de Abril, as comemorações populares tiveram uma expressiva adesão. A data redonda, ainda por cima pouco tempo depois de um partido como o Chega ter eleito 50 deputados, levou muita gente que há vários anos não o fazia a sair à rua a afirmar a importância dos valores de Abril.
Mas este ano, pelo menos no Porto, a adesão ainda foi maior! Na noite de 24, perante os milhares que se concentraram nos Aliados, ainda me passou pela cabeça que o motivo de tanta adesão era a Capicua. Mas a simbiose que se gerou entre a plateia e a sua atuação, marcadamente política, bem como o facto de, após o seu concerto, a multidão não ter arredado pé, entoando as Heroicas de Fernando Lopes Graça e a Grândola cantadas pelo Coral da Faculdade de Letras, mostraram que não era (apenas) a música que tinha levado aquela multidão à “Praça”.
Mas o desfile do dia 25 ultrapassou todas as (minhas) expectativas, tendo a certeza de que esteve mais gente do que no aniversário, redondo, do ano passado. E, em paralelo com aqueles que nunca falham (como me comoveu ver a Branca Costa, uma resistente antifascista, do alto dos seus 95 anos e em cima das suas pernas inchadas, a fazer, combativa, o desfile que durou mais de duas horas) e dos que falharam por manifesta impossibilidade (como me lembrei da Ilda Figueiredo, essa força da natureza que, espero-o, para o ano já estará ao nosso lado), aquilo que mais impressionou neste desfile foi a presença massiva de jovens. Daqueles que nasceram mais de vinte e cinco anos depois de Abril e que têm consciência daquilo que a Revolução representou e representa para o país e para as suas vidas. Gente que saiu à rua, enquadrada ou não nas diversas organizações presentes, para gritar bem alto que não aceita qualquer cancelamento da liberdade e que está disponível para lutar por ela. Com centenas de mensagens, mais ou menos criativas, inscritas em pancartas improvisadas em que exprimiam o que lhes ia na alma.
Saí, assim, de alma cheia destas comemorações. Com a certeza de que o 25 de Abril, 51 anos passados, está mesmo enraizado no povo português e que, mesmo aqueles que não o viveram, o adotaram como seu, bem como aos seus valores.
Saibamos, nas eleições de 18 de maio, ser consequentes, dando força àqueles que mais contribuíram para que o 25 de Abril se fizesse e mais se têm destacado na sua intransigente defesa.