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Muita da opinião publicada dá conta de uma deceção com a atuação de Leão XIV. Teme-se que não consiga dar continuidade à dinâmica introduzida por Francisco. Que seja um Papa apagado, sem a chama e a determinação do seu antecessor.
Ainda é cedo para avaliar aquilo que vai significar para Igreja e para o Mundo o pontificado do atual Papa. Contudo, Leão já deu sinais suficientes de que pretende continuar vários pontos da agenda de Francisco e, em determinados aspetos, até tem sido mais incisivo do que ele.
Disso é bom exemplo a sua primeira exortação apostólica Dilexi te (Eu te amei), sobre o amor aos pobres. Leão assumiu o título e o esquema deixado por Francisco e deu-lhe o seu cunho pessoal. Sendo natural que revele continuidade com o pensamento do seu antecessor, surpreendeu pela clareza e pelo arrojo.
Francisco ergueu a voz contra uma "economia que mata". Leão diz que é necessário denunciar a "ditadura de uma economia que mata". Francisco fez dos pobres a sua preocupação primordial. Leão questiona na Dilexit te "por que razão muitos continuam a pensar que podem deixar de prestar atenção aos pobres?", quando a Bíblia, a práxis da Igreja, o seu magistério e, particularmente, a sua doutrina social, são tão claros em relação a esta matéria.
O Papa dedica cerca de dois terços da exortação a recordar o papel social da Igreja ao longo de vinte séculos de história e a relevância da sua doutrina social. É uma bela síntese que Leão remata com o alerta: "Permanecer no mundo das ideias e das discussões, sem gestos pessoais, frequentes e sinceros, será a ruína dos nossos sonhos mais preciosos" (n.° 119).
A Igreja e o Mundo anseiam por esses gestos concretos de Leão XIV, que confirmem o que já se vislumbra nas suas palavras: o seu empenho em levar por diante e consolidar a visão e a dinâmica de Francisco.