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O PSD acaba de apresentar o seu "plano anticrise". Parece bem mais explícito, rigoroso e coerente do que a proposta alternativa ao casamento homossexual. Como pontos centrais, a melhoria e transparência das contas públicas, a redução da despesa (inútil?), o apoio às pequenas e médias empresas, o não aumento de impostos, a ajuda às situações mais necessitadas.
A ideia geral parece ter pernas para andar, e não é impossível que seja apoiada pelos restantes partidos. Trata-se de uma ideia ditada pela emergência.
Fala-se muito de "compromisso de salvação nacional", em torno do Orçamento. Esse pacto seria multipartidário, e até suprapartidário, alicerçando-se num apelo presidencial de unidade no essencial.
Mas faz bem o PP em exigir, em qualquer arranjo, clareza, rigor e publicidade. É preciso que o público saiba quem propõe o quê, quando e como.
E é sobretudo preciso não usar a expressão "salvação nacional" em vão.
Na verdade, não há "salvação" se o acordo for apenas uma tábua de sobrevivência. Uma tábua emprestada ao Governo por partidos que, precisados de arrumar a casa, não podem pensar nem em eleições. De qualquer forma, só poderiam estas ser convocadas entre Março e Outubro.
Ou seja, um qualquer acordo não é melhor do que um acordo bom. Ora o que precisamos é deste.
O que é um acordo bom?
Aquele que exponha um plano estratégico para a reforma das Finanças e da Economia nacional.
Escrevi "reforma": não mera "renovação na continuidade".
É verdade que não há uma ideia única sobre a "salvação". Conhecemos isso da história e do presente.
No interregno militar (1928-1933), o ex-chefe do corpo expedicionário português na Flandres, Sinel de Cordes, ajudou a arruinar as finanças públicas, apesar de as querer sanear. A política de enormes empréstimos externos (sobretudo do Reino Unido), solução dramaticamente fácil, tornar-nos-ia momentaneamente mais folgados, mas abriria o caminho da dependência, da subordinação ao estrangeiro, da servidão.
Cordes era, com certeza, homem íntegro e patriota. Mas a "salvação" das finanças não é nem um mero compromisso moral, nem vive só de bons sentimentos.
Daí que, depois do irascível general, viesse um sereno lente de Coimbra, obcecado com o aforro, a dívida e o equilíbrio.
Equilibrou-nos, realmente.
Com um preço conhecido.