"Artigo 2 - A Constituição fundamenta-se na indissolúvel unidade da Nação espanhola, pátria comum e indivisível de todos os espanhóis, e reconhece e garante o direito à autonomia das nacionalidades e regiões que a integram e a solidariedade entre todas elas".
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Este artigo da Constituição espanhola sintetiza na perfeição a impossibilidade de vencimento da vontade independentista de uma parte dos catalães. A lei fundamental proíbe-o, mas garante-lhes a autonomia que lhes é devida e exige-lhes o dever da solidariedade. É entre os espanhóis que o assunto acabará por ser resolvido, mas já que em Portugal há manifestos, petições e cartas abertas a defender o princípio do direito à autodeterminação como válido em qualquer circunstância, convém que a Esquerda mais radical tenha presente que a vontade maior dos independentistas catalães é deixar de contribuir solidariamente para a coesão e bem-estar de toda a Espanha.
É claro que as elites têm o cuidado de produzir um discurso mais elaborado, pintado de tradição, cultura e língua própria, mas não tem que enganar. A Catalunha, como as outras comunidades autónomas de Espanha, viu a sua autonomia reforçada num processo democrático que culminou com um referendo em que três em cada quatro catalães disseram sim ao novo estatuto. Quase 75% dos eleitores disseram sim a Espanha e sim à reforçada autonomia da Catalunha. Não foi no início do século passado, nem na passagem da ditadura franquista para a democracia. Foi em 2006, há 13 anos!
Entretanto houve uma crise global que também afetou seriamente a Espanha, de uma forma geral, e a Catalunha, de uma forma particular. Não raras vezes foi na Catalunha que se verificou a maior subida do desemprego. É claro que basta ouvir o povo na rua para perceber que o discurso dos malandros do Sul que não trabalham e vivem à custa da gente trabalhadora do Norte fez caminho. Num país em que as regiões gozam de grande autonomia cresce o discurso anti-Madrid, que cobra o que pode a uma região que vale cerca de 20% do PIB espanhol e "não devolve nem metade". Para os independentistas catalães o que ganham por pertencer a uma Espanha forte e, por essa via, à União Europeia e ao Euro não conta. A solidariedade para eles deixou de fazer sentido a partir do momento em que percecionaram que tinham mais a ganhar do que a perder em deixar Espanha para trás. Podem pensar que é legítimo, mas não é, porque a Constituição espanhola não o permite. E, sobretudo, não é justo!
*Jornalista