Como já várias vezes afirmei, tenho admiração e respeito pelo trabalho desenvolvido e pelos desafios que quotidianamente enfrentam os nossos autarcas.
Corpo do artigo
Sou nortenha e gosto, por amor a este território, de visitar e conhecer todos os seus pedaços e, com os pés na terra, procurar perceber e refletir sobre os vários caminhos que se poderiam percorrer para melhorar o extraordinário trabalho já genericamente conseguido.
Neste olhar de fora, sempre superficial e incompleto, fica-me a ideia, básica, de que a chave das próximas etapas passará obrigatoriamente por uma capacidade de diferenciação que por si só e em rede poderá, numa primeira fase, atrair visitantes e, consolidada a atividade económica associada ao turismo, população residente.
A questão colocar-se-á então ao nível da estabilização da vocação específica de cada território. E é aqui que sinto existirem as maiores dificuldades. Todos os srs. presidentes de Câmara já perceberam que têm de evoluir para uma carteira de investimento público mais dirigida para o conhecimento, para o tratamento e valorização da informação, para a recuperação e interpretação do património cultural e ambiental. Têm-no feito, aliás, de forma notória e, na maioria das vezes, qualificada.
O problema é a quantidade de direções em que são solicitados. Como se organiza o investimento e se vende o potencial de uma cidade que é simultaneamente testemunho de importantes culturas pré-romanas, centro regional do império romano na península, cidade termal de grandes tradições e berço de um dos maiores pintores contemporâneos nacionais, cuja coleção, por sua vez, se alberga numa das mais importantes obras de um dos Pritzker português? Isto sem falarmos da beleza do seu rio, da qualidade da sua gastronomia e tradições etnográficas ou ainda, porque está na raia, do contrabando ou da heroica defesa de quem por lá se acoitava fugido da guerra civil espanhola.
Vendemos arqueologia, termas, romanização, pintura, arquitetura ou histórias de fronteira? Cada um destes temas conta uma história diferente que se foi construindo sobre o mesmo território. Mas como dosear o esforço a despender com cada segmento? O que estudar primeiro? O que reabilitar com maior intensidade? O que assumir como caroço da sua identidade?
A resposta não é simples e implica uma reflexão aturada. Fica-me a ideia de que a CCDR-N poderia ter aqui um papel importante. Afinal, cartografar e graduar as vocações de cada um dos nossos concelhos poderia ser um ato de planeamento tão estratégico quanto o foi, no seu tempo, a implementação dos PDM. Com a vantagem de tratar à vez a diferenciação e a rede.
* ANALISTA FINANCEIRA