Neste Natal não houve a habitual mensagem do cardeal-patriarca de Lisboa. Colocou-se a questão se, finalmente, a RTP tinha cedido às críticas daqueles que discordam desse "privilégio" concedido à Igreja Católica.
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Há uma semana, um artigo de Fernanda Câncio no "Diário de Notícias" esclarecia que D. Manuel Clemente se tinha recusado por não se sentir à vontade para "falar em nome da Igreja Católica" e que "devia ser o presidente da Conferência Episcopal a fazê-lo". Este, atualmente, é o bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas.
De facto, é comum pensar-se que o patriarca é o "chefe" da Igreja em Portugal. Na verdade, porém, as dioceses estão organizadas em metrópoles. Em Portugal, há três: Braga para o Norte, Lisboa para o Centro e ilhas e Évora para o Sul. Cada uma tem um arcebispo que só em determinadas circunstâncias pode intervir nas dioceses que dele dependem, denominadas sufragâneas. O bispo de Lisboa não é conhecido como arcebispo porque a história conferiu-lhe o título de patriarca.
A Conferência Episcopal reúne os bispos de um país ou região: não é, contudo, uma instância hierárquica, mas sobretudo pastoral. Permite aos bispos, pela partilha de ideias, encontrarem linhas de ação comuns. Hierarquicamente, cada bispo depende diretamente do Papa.
Em fidelidade ao Evangelho, a hierarquia na Igreja não deverá ser uma questão de poder, mas antes de serviço. Foi, aliás, o que Jesus disse aos seus discípulos: "Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo" (Mc 10, 42-43).
Assim, o "chefe" da Igreja em Portugal terá de ser, de acordo com as palavras de Jesus, aquele que mais dedicadamente, e melhor, a servir.
Padre