<p>Diz muito sobre aquilo que somos o facto de só há dias termos sabido quando serremos chamados às urnas para escolher o novo Parlamento (e por via disso o novo Governo) e as novas câmaras. Não houve, como é bom de ver, nem atraso nem qualquer irregularidade. Tudo decorreu dentro dos prazos e é aí, precisamente, que reside o problema. Num tempo em que tudo tem de ser bem programado para se garantir que tudo corra bem, jogar com o tempo, jogar em cima da hora, raramente é boa política para qualquer empresa, a menos que a mudança de circunstâncias implique golpes de rins de última hora. Será bom para o país?</p>
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Na política, as coisas correm ao contrário. Que mal haveria - ou dito de outra forma: não seria melhor saber-se desde o início do ano, que as eleições Legislativas seriam em 27 de Setembro e as Autárquicas em 11 de Outubro? A quem aproveita este segredo de valor zero? Claro que a lei diz que as eleições devem decorrer num intervalo de tempo posterior à sua marcação, mas é precisamente isso que se contesta, pois tudo seria mais transparente se assim não fosse.
Mas há outros segredos de maior valor na nossa política. A poucos meses das eleições, que sabemos nós do programa do PSD? Nada. Ele só estará pronto em final de Julho. Quer isso dizer que será discutido em Agosto? Sim e não. Sim, porque estando pronto será possível falar sobre ele. Não, porque sendo Agosto um mês de férias ninguém estará interessado nessa discussão. Restam, então, uns poucos dias de Setembro. Que ministros tem o PSD na calha, se ganhar? Ninguém diz. Ninguém diz porque interessa que o seu tempo de exposição ao erro e à crítica seja curto. É isso que garante este segredo: um estado de desconhecimento mais ou menos generalizado. As oposições dizem o menos possível sobre o que pretendem fazer e o Governo sobre o que mudará, porque isso seria reconhecer erros, dar razão a algumas críticas. E é neste quadro que os eleitores votarão. Sujeitos a segredos que não serão desvendados. Infelizmente, muitos votarão por clubismo. Outros farão uma opção por quem agora esteja na oposição, por não estarem satisfeitos com o Governo. E alguns, possivelmente uma minoria, abster-se-ão por desinteresse, por os partidos não lhes darem meios que lhes permitam fazer opções, por desencanto.
Educação, Justiça, Emprego, Saúde e Segurança. Eis cinco áreas vitais. Por que é que os partidos não nos dizem tintim por tintim o que vão fazer? Por que é que não dizem que personalidade escolhem para gerir os destinos dessas pastas? Não seria mais fácil para todos escolher? Em Portugal, convencionou-se que gerir o silêncio é uma arte só ao alcance de alguns. O facto é que vivemos num tempo em que precisamos de saber o que os políticos pensam e o que querem para o país.
PS - Henrique Granadeiro disse ao jornal "i" uma pequena parte do que sabe sobre as intromissões do PSD na Lusomundo Media. Manuela Ferreira Leite diz que desconhece e que, se tal for verdade, não concorda. Ainda bem. Mas informe-se, dr.ª Manuela. Há no seu partido quem, com conhecimento de causa, a possa elucidar bem.