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Na procura de um caminho para vencermos a pandemia e ultrapassarmos as consequências das nossas decisões, fizemos o confinamento com o que parecia ser conta, peso e medida, mas no desconfinamento não estamos a acertar. O epicentro pode agora estar na juventude, como volta a estar em lares de terceira idade, ou esteve há bem pouco tempo em grandes armazéns de distribuição, em transportes públicos ou em alojamentos de imigrantes e trabalhadores precários da agricultura. Em cada momento, uma desculpa. Durante todo o tempo, uma culpa coletiva.
Anunciar, com pompa e circunstância, que a UEFA considera que Lisboa é um caso de sucesso no combate à covid verga a curva ascendente de contágios que se verifica na região? Os sinais errados passados para a sociedade foram discutidos. É evidente que as mensagens passadas pelo poder político são muitas vezes contraditórias e outras vezes facilitistas. Regressar ao limite de dez pessoas para encontros coletivos, depois de os ter passado para 20 pessoas, serve para quê? Quando o limite eram 20 pessoas, isso impediu que houvesse ajuntamentos de centenas de jovens em várias cidades do país?
No combate à covid-19, o poder político comete erros de comunicação, mas eles só assumem graves consequências se nós não cumprirmos as regras básicas do desconfinamento. O uso de máscara, a higienização constante das mãos, o distanciamento social são para cumprir até que a pandemia esteja totalmente controlada. Se gastaram milhões em publicidade institucional, encham a Comunicação Social com esta mensagem. O incumprimento destas regras é mais ou menos generalizado.
Chegamos aos jovens, que não são diferentes no Norte e no Sul, nem sequer nas grandes e nas pequenas cidades, nem no interior e no litoral. O que existe são uns locais onde há mais jovens e isso potencia o desastre. Durante o confinamento, esta faixa etária foi seguramente a que mais sofreu com a reclusão. Agora, que as férias sabem a férias e o bom tempo chegou, só podemos esperar que os jovens sejam jovens e cometam os erros que só os jovens são capazes de cometer, até que sejam chamados à razão. É preciso repetir-lhes que os jovens também se contagiam e, sobretudo, contagiados, podem contagiar irmãos, pais e avós.
Numa adaptação do final do poema Sísifo, de Miguel Torga, é preciso lembrar-lhes:
És jovem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Jornalista