Como registo de interesses, devo dizer que ao longo do tempo em que frequentei o Liceu Nacional de Alexandre Herculano tive, em termos médios, melhores professores do que na universidade.
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Aqui, a par de algumas pessoas fantásticas, que marcaram de forma indelével a minha vida, convivi com alguma mediocridade autocrática, que ainda hoje perturba uma parte do Ensino Superior.
O bem-estar da classe dos professores é decisivo para assegurar um futuro condigno das gerações mais jovens, desígnio decisivo para o país. Durante o tempo em que tive o privilégio de frequentar a escola pública, os seus profissionais eram respeitados. Por isso, não admirava que o setor público fosse a escolha natural da maioria dos alunos, sendo na época o ensino privado marcado por uma imagem de facilitismo e défice qualitativo. É por isso com preocupação que temos assistido à perda de prestígio, em muitos casos de dignidade, da classe dos professores, tratados de forma negativa por sucessivos governos. Sendo muito difícil a recuperação do tempo de serviço, uma perda comum à maioria dos setores da administração pública, já se torna incompreensível a degradação global, incluindo salarial, que atinge esta classe profissional, de que são exemplo as situações de mobilidade territorial sem qualquer tipo de incentivo. Os casos que vemos reportados são bem reveladores da injustiça que se tem abatido sobre os professores ao longo das últimas décadas.
Mas, exatamente por tudo o que acabo de referir, quando se pede respeito, torna-se inaceitável a total falta do mesmo para com o primeiro-ministro de Portugal. O radicalismo é um dos cancros mais perigosos para a democracia. A minha revolta pelos insultos inqualificáveis dirigidos a António Costa é similar à que em vários momentos senti com os ocorridos com Passos Coelho. Quando esta atitude tem origem na classe que elogiei neste artigo, então estamos mesmo muito mal.
*Reitor da UTAD