O presidente garante que não está preocupado com a aprovação do Orçamento do Estado (OE), porque conta com o ovo no interior da galinha, mas também já confessou que preferia ver o dito cujo sair viabilizado pela ala Esquerda do Parlamento.
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Num Governo sem maioria parlamentar, nem geringonças assinadas em papel, a prioridade é ter o OE aprovado, mas não é igual manter a parceria da legislatura anterior ou andar a jogar aos queijinhos.
Perante os resultados eleitorais, parecia tudo tão fácil. Como bem notou o excelente analista político Augusto Santos Silva, o Governo só cai se houver uma coligação negativa entre a Esquerda e a Direita, logo o Executivo de António Costa só tem de indicar o caminho, porque a Esquerda não arriscará fazer o que fez com Sócrates, entregando o poder ao centro-direita. Básico, não é? O problema é que a dita Esquerda pode dar conta de que a morte é certa, qualquer que seja o caminho escolhido, porque será a evolução económica, como bem notou outro brilhante analista (MRS), a determinar o futuro do Governo. À mínima crise, com subida da taxa de desemprego e cortes nas regalias da Função Pública, tudo muda. A carochinha pode ser dona da moeda e não querer para casamento nem cão, nem gato, mas quando o João Ratão desconfia das intenções da casamenteira, não é de excluir que ela fique sozinha, namoriscando aqui e ali à espera que a história não se repita.
Não há inocentes. O CDS está mais interessado em provar que é tão liberal como a Iniciativa ou tão à Direita como o Chega. No PSD, todos querem mostrar que são oposição e ninguém estará disponível para viabilizar o OE. Bloco e PCP querem mostrar que não são paus-mandados. Iniciativa Liberal e Chega são contra tudo que leve o nome socialista, sobrando o PAN e o Livre, em processo de suicídio, para juntar os votos a qualquer grupo que tenha um fontanário para aprovar. Com estes pretendentes, não é de excluir que o PS de António Costa se tenha entusiasmado muito para lá do que lhe permitia o dote que tem para oferecer. Desta vez passa, mas esta história tem tudo para acabar mal.
*JORNALISTA