Corpo do artigo
Dois estudos, um norte-americano e outro europeu, vieram demonstrar que a inflação tem duas faces, uma mais negativa e imediata e outra positiva, mas com efeitos apenas no médio ou longo prazos. Em termos simples, o aumento do preço das casas verificado nos últimos anos fez crescer a riqueza patrimonial, mas coloca, aqui e agora, problemas de liquidez às famílias. Os juros têm aumentado, fazendo disparar as prestações. E o problema não é de nicho. Os proprietários de casa representam mais de 60% da população da Zona Euro. Em Portugal, há mais de um milhão de famílias a pagar crédito à habitação.
Os dois referidos estudos - um da autoria do Banco Central Europeu e outro de Eduardo Wolff, professor da Universidade de Nova Iorque - demonstram que o efeito positivo da inflação diminuiu as desigualdades entre ricos e pobres, tanto nos EUA como na Europa. “Na verdade, a inflação tem sido uma bênção para a classe média em termos do seu balanço. É também um fator que ajudou a promover o crescimento real da riqueza e a reduzir a desigualdade geral”, afirma Wolff, referindo-se ao período de 1983 a 2019. E, segundo o BCE, a riqueza líquida das famílias aumentou 29% nos últimos cinco anos devido ao aumento dos preços da habitação.
Apesar de estarmos perante dados estatísticos analisados por especialistas, mais do que a riqueza patrimonial, o que realmente ocupa a mente de muitas famílias portuguesas é a próxima prestação mensal da casa. A dívida pública ficou abaixo de 100% no ano passado? Embora também esse indicador possa prevenir crises e austeridades impiedosas impostas pelas troikas, as famílias debatem-se com o “aqui e agora”.
O futuro próximo não é de todo rosa. O país está à beira de umas legislativas de resultado imprevisível e com instabilidade garantida no cenário pós-eleitoral. Os despedimentos preanunciados e o desemprego, que já dá sinais de crescimento, lançam novas nuvens negras sobre o horizonte.