O argumento mais populista e demagógico que é sempre utilizado contra a regionalização funciona como um espelho, revelando a razão por que há tanto medo de colocar o poder mais próximo do povo.
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Democratizar o poder regional tem custos, mas também tem proveitos. Se nos atiram à cara que a regionalização vai criar centenas de "tachos", é preciso lembra-lhes que a maioria desses lugares já existe. Só não são eleitos, são nomeados pelo poder político que se eterniza na corte de Lisboa. Em todas as regiões há uns quantos que, sabendo que nunca seriam eleitos, preferem manter o "status quo", aumentando a probabilidade de serem premiados como líderes de uma fraca descentralização, quais regentes subordinados aos interesses da capital.
Que o centralismo é uma grave distorção dos fundamentos da democracia já todos sabemos, que haja quem insista em mantê-lo, apesar dos sintomas evidentes do mal que faz ao país, é quase um crime. O que pode ser Portugal se se mantiver o despovoamento e a desertificação do interior? O que será da nossa economia, se todas as empresas tiverem de fugir para Lisboa? Quem pode ganhar com as desigualdades crescentes entre as várias regiões do país? Na Europa, onde quer que ela exista, a regionalização significou mais desenvolvimento, melhores contas públicas e, sobretudo, menos desigualdade.
Não é, portanto, ao povo de Lisboa que importa o centralismo. Nos subúrbios da capital vive a maioria dos mais oprimidos economicamente. A regionalização, pressupondo a existência de uma região de Lisboa e Vale do Tejo, também acrescenta democracia e desenvolvimento a esse espaço geográfico e às pessoas que o habitam. Quem não quer a regionalização são os que, passeando nos corredores da corte, procuram garantir o benefício de determinarem não só como se recolhem os impostos, mas também como se utilizam ou se redistribuem para atenuar as desigualdades. Os que têm medo da regionalização e do que ela pode trazer ao país são os que convivem bem com o estado de inércia a que chegou parte significativa dos serviços públicos comandados a partir do Terreiro do Paço.
* JORNALISTA