O PCP é um partido de protesto. Um partido de protesto, ortodoxo e sério. O PCP protestou sempre contra todos os governos e quando o último voltou a ganhar as eleições, o PCP protestou e decidiu engolir um sapo para que o antigo Governo não voltasse.
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Depois, o PCP protestou com o sapo até que o PS o deixou escrever os protestos e prometeu resolvê-los.
E o PS tem cumprido o que prometeu e o PCP teve de encontrar outro alvo para os seus protestos.
Bruxelas tem-se posto a jeito, de há uns anos a esta parte, e o PCP protestou violentamente contra Bruxelas que achava a "aventura perigosa" e o Governo "populista".
Mas, os portugueses têm-se esforçado e a economia tem melhorado. E Bruxelas esqueceu-se e tratou bem o país, o Governo e os seus aliados. E o PCP ficou, de repente, sem o que protestar.
Desengane-se quem pense que o PCP se deixou integrar numa qualquer amálgama de Esquerda, mal definida. O PCP, diz bem Jerónimo de Sousa, é muito mais do que a expressão do seu voto popular. O PCP vale pela sua influência social, pelo seu poder de convocatória sindical, dos transportes à educação.
Mas o PCP esqueceu-se que mandou calar os sindicatos quando se fez parte da "geringonça".
Ora, a prová-lo, estão as greves de que ninguém fala e as manifestações que não se ouvem.
Até pode ser que Mário Nogueira amordace o ministro da Educação, mas a verdade é que não se dá conta. E o PCP sabe que do que não se dá conta, não se fala, e o que não se fala não existe!
Resta-lhe voltar a Bruxelas, mas subir a parada. Agora o PCP exige, de caras, que nos perdoem a dívida e que se rasgue o Pacto Orçamental.
O diabo é que Mário Centeno já fala em apoiar o perdão da dívida grega e já diz que o Pacto Orçamental pode ser "aperfeiçoado". E um destes dias o PCP já não pode protestar porque o PS, como dizia Cocteau, "não sabendo que era impossível, foi lá e fez".
Ou seja, o PCP tem de pensar muito bem o que faz nesta "geringonça", agora que esta, contra tudo e contra todos, lá foi velejando.
É que, saltar do barco, nem sempre serve para evitar o afundamento. Também evita enfunar as velas do barco dos outros.
* ANALISTA FINANCEIRA