Não trazer para o debate público a urgência do voto eletrónico ou online é acreditar que o país voltará a ser o mesmo no pós-pandemia, aceitar com normalidade os altos índices de abstenção e encolher os ombros a uma geração desinteressada pela política.
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A discussão sobre manter ou adiar as eleições autárquicas previstas para outubro, apesar de legítima, é prematura, mas o foco dos atores políticos devia ser outro, como, por exemplo, explicar aos portugueses as razões pelas quais, após 23 anos de testes, não se avançou rigorosamente nada no voto eletrónico. Já para não falar do voto online.
Se consultarmos o portal do eleitor percebe-se a estagnação ou a inércia. "A 1.a experiência-piloto de voto eletrónico foi realizada nas eleições autárquicas de 1997, em várias assembleias de voto de uma freguesia de Lisboa. Nas eleições autárquicas de 2001, foram acrescentadas algumas melhorias ao sistema e efetuadas experiências-piloto para assembleias de voto de uma freguesia do distrito de Lisboa e outra do distrito do Porto. Nas eleições europeias de 2004, foram testados três sistemas diferentes de votação eletrónica em assembleias de voto de nove freguesias de diferentes concelhos de várias regiões do continente. Nas eleições legislativas de 2005, foram utilizadas tecnologias de suporte à votação dos cidadãos com necessidades especiais com as quais se realizaram experiências-piloto", lemos no portal.
O interesse pelo tema é tão diminuto que se tentarmos aceder à página http://votoeletronico.pt/ somos presenteados com a palavra "soon" (em breve).
O país da transição digital, do "simplex", do Multibanco que deu cartas na Europa, do e-fatura (agora com uma nova aplicação para telemóvel), etc., não pode ignorar a necessidade de ter um sistema de votação que vá ao encontro do mundo real e das pessoas que o habitam. Mesmo após o alerta do presidente da República que reconheceu a necessidade do voto digital e criticou o ultraconservadorismo sobre o tema, o anacronismo persiste. Dificulta-se a vida aos candidatos independentes, discute-se o adiamento de eleições e ignora-se a realidade. Fica tudo igual.
*Diretor-adjunto