Querem apostar como nos programas eleitorais que vão começar a ser apresentados os problemas vão ser elencados de acordo com a orgânica ministerial que vigora em Portugal há décadas?
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Lá virão os temas organizados de acordo com as pastas da Economia, das Finanças, da Agricultura, do Ambiente, da Justiça, da Segurança Social etc...
No atual Governo são 14. Costumam andar pelos 16 ou 17 e inovam aqui ou ali com uma Secretaria de Estado da Igualdade, com um ministro do Desenvolvimento Regional ou coisa assim.
Na prática, a máquina do Estado nem estremece porque ministro vai, ministro vem, o processo é o mesmo, os departamentos e os feudos os mesmos e os diretores-gerais não são quem manda, porque em Portugal se consegue a extraordinária proeza de partido sim, partido não se alterar toda a estrutura dirigente. A serenidade baixou um nível e repousa agora em diretores de serviço ou chefes de divisão.
Talvez valesse a pena pensar esta dimensão da arquitetura política a partir dos problemas e não das respostas já existentes. Por exemplo, assentar que temos de continuar a existir - demografia, envelhecimento, emigração; que temos de nos conhecer muito bem - língua, história e património; que temos de garantir que as infraestruturas funcionam para que a economia se desenvolva - redes e governação; que temos de garantir um estado social - saúde, educação, segurança social e finanças; que temos de viver em paz - segurança e cidadania; que vimos do Mundo e temos de nos encontrar no Mundo - África, Europa e resto do Mundo.
Talvez se possa fazer outra leitura, talvez se possa elencar os grandes desafios de outra forma. Mas a questão é que o exercício devia ser feito.
Reparem que uma mudança deste género implicava uma desestruturação significativa da máquina instalada, uma noção muito mais clara daquilo de que se poderia prescindir e do que deveria ser valorizado.
Teria seguramente a vantagem de ameaçar de morte esta governação em linha, feita de setores estanques, que não abrangem a realidade, que em vez de convergir se sobrepõem, num gasto de energia inútil, caro e, sobretudo, muito pouco inspirador.
Nenhum dos candidatos se abalançará à tarefa. Querem apostar?
ANALISTA FINANCEIRA