A ministra da Educação vai pôr à discussão alterações ao processo educativo que, na linguagem comum, acabariam com as reprovações. Não será bem assim. Sem entrar em muitos detalhes, parece-me que se pretende criar mecanismos de apoio para alunos que manifestem dificuldades de aprendizagem, suprindo com trabalho suplementar essas eventuais debilidades. Como se sabe, a falta de habilitações e qualificações é um dos principais factores da perpetuação da exclusão. Para além das lacunas de conhecimento, essas pessoas não adquirem, igualmente, as rotinas de trabalho, de sacrifício e de auto-disciplina que lhes serão exigidas no mercado de trabalho. Muitos dos alunos com um registo de dificuldades de aprendizagem provêm de ambientes familiares desestruturados em que, para além de outros problemas, os progenitores correspondem ao perfil acima traçado. Para estes destinatários, a política proposta pecará apenas por tardia. Mesmo numa perspectiva de custos-benefícios, arriscaria que mais vale investir nesta fase preliminar da vida do que andar, mais tarde, a tentar recuperar o que já dificilmente se endireita. Lembro aqui, mais uma vez, o filme Precious, baseado num caso real, que retrata uma experiência americana envolvendo um grupo de jovens oriundos de estratos sociais marginais. Em tempo de Verão e de sugestões aqui fica uma: alugue ou compre o DVD.
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Não nos iludamos, porém. Para além de eventuais questões de organização do sistema de ensino e de qualidade pedagógica, muita reprovação decorre, prioritariamente, de falta de empenhamento e trabalho. Para esses, a proposta actual só pode ter efeitos perversos: é que no mundo do trabalho, para se ter emprego é preciso querer... trabalhar. A multiplicação de esquemas de apoio arrisca-se a infantilizar os alunos, contribuindo para perpetuar esse mal endémico de uma sociedade fortemente estatizada: a dependência. Não admira que, mais velhos, continuem a esperar que o Estado lhes venha a resolver os seus problemas. É isso que vemos todos os dias. Mas não precisa de ser assim. Continuando com os exemplos, vejamos o caso de Juliana Rocha, 18 anos, campeã nacional de boxe. Levanta-se às seis da manhã para treinar, antes de ir para a escola. No fim das aulas, volta a treinar. Regressa a casa, tarde, por volta das dez e meia da noite. Estuda, então. O suficiente para ser uma boa aluna. Disciplina, organização, ambição, capacidade de sacrifício, abnegação. Repito: um caso exemplar, a merecer ser conhecido. Querer é poder! Nem sempre. É, pelo menos, meio caminho andado.