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Mais do que a afluência aos restaurantes, a crise da restauração começa na falta de recursos humanos. Há pouca gente a querer trabalhar num restaurante porque além de os salários, em muitos casos, não serem atrativos, a verdade é que fazer almoços e jantares implica uma disponibilidade horária que pouco compensa. É um setor difícil, tanto para patrões como para funcionários. É por isso que a Associação da Restauração e Hotelaria se juntou ao Sindicato dos Trabalhadores dos Serviços para cozinharem soluções para resolver este problema da falta de atratividade. Foi então anunciado esta semana o aumento de salário médio de 6,7% para 2025 e a mudança do nome de "empregado de mesa" para "assistente de sala". O que faz sentido. Esta mudança de nome soa a promoção, portanto faz todo o sentido aumentar-se o salário. Até devia ser sempre escrito com maiúsculas para ser ainda mais apelativo.
Assistente de Sala. Foi, aliás, o mesmo género de rebranding que teve a palavra cozinheiro, e vejam hoje a quantidade de chefs que existem. E chef sem "e" no final. Porque chefe é o que se chama a alguém que não nos deixa sair com o carro porque tem o dele em segunda a fila.
Eu vejo pelas minhas amigas que, hoje em dia, há poucas coisas mais sexys que um chef de cozinha. Atenção, eu também vejo a série do "The Bear" e fico caidinha pela personagem principal. É alguém que contribui para um ambiente altamente tóxico e tem graves problemas psicológicos, sim, mas também é um tipo que sabe mexer em facas e que é capaz de desossar uma pá de porco à nossa frente e é alguém que se pode levantar da cama só porque nos apetece bife wellington às três da manhã. Já a profissão de empregado de mesa parece que não tem o mesmo sex appeal. E eu sei bem do que falo, porque trabalhei muito tempo na restauração e a maioria dos proponentes eram os bêbados.
A valorização da função de empregado de mesa há muito que é urgente e necessária. Um empregado de mesa é alguém que faz mais do que levar pratos, servir o Iced Tea de manga no copo do cliente ou apanhar prontamente o talher e trazer outro porque aquele caiu ao chão. Um empregado de mesa é o humorista que criou o clássico "Queria? Já não quer?", o sempre surpreendente "Tosta mista não temos. Só tosta de queijo ou de fiambre" e o intemporal portuense "Imperial não sei o que é". Um empregado de mesa é a figura mais importante de um primeiro encontro, porque é através dele que percebemos se esta pessoa com quem estamos a jantar se revela uma otária pela forma como o trata. Um empregado de mesa é um camarada que, mais do que servir a pátria, está na primeira linha a servir clientes mal-humorados porque têm fome. Um empregado de mesa tem de ter sempre um sorriso no rosto, mesmo que lhe doam as pernas porque está em pé desde a manhã. Um empregado de mesa é um intérprete de língua gestual ao qual basta um gesto da mesa do fundo para saber que "é a continha, se faz favor". Por isso, como ex-camarada, assumo que chamar "empregada de mesa" ou "assistente de sala" é indiferente. A única designação que deveria ser proibido é: "Ó, psst! Psssst!".

