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Tenho um profundo desprezo pela "Banana" que chegou ao Porto e está exposta em Serralves. Um desdém absoluto pelas filas que a contemplam mais a fita adesiva colada à parede. Um particular desdém pelo investidor que a comprou por seis milhões de dólares - fê-lo para provar que é o gorila dominador da selva, o grande macho que atrai os outros machinhos pelo cheiro do seu dinheiro e da mágica "Banana" que matará a fome da tribo.
Seis milhões por uma provocação. Só entre nós, aposto que estas palavras despertarão dezenas de maluquinhos disponíveis para gritar o quanto sou tacanho e saloio por não entender que a Banana não é uma banana, mas uma revolução, um grito contra o estado de coisas, contra a fome e a guerra e a sociedade de consumo. Os curadores de "Sussurro", nome da exposição de Cattelan, acrescentaram que a "Banana", e as outras propostas do artista, está para Serralves como as Tentações de Santo Antão para o Museu de Arte Antiga - uma e a outra são a visão de um mundo que já ardeu.
Não quero a "Banana". Não a quero comer. Não a quero ver, mesmo que a sua função seja a de despertar pessoas para discutirem ou se indignarem. Mesmo assim, não pretendo discutir a banana. Não quero entrar na enorme hipocrisia de um mundo da arte que, a este nível, é uma fogueira de vaidades que critica o mundo do consumo enquanto se banqueteia com trufas brancas, açafrão e caviar selvagem empurrado com Veuve Clicquot em vernissages no Ritz ou no Pestana Vintage.