Corpo do artigo
O discurso de encerramento do primeiro-ministro no Congresso do PSD, feito a partir de Braga, parece descrever um país de paisagens, que continuará prejudicado pela concentração de investimento e de atenção sobre Lisboa, ou mais precisamente, a sua área metropolitana.
Faltou falar do resto do país, do país que se tem afastado da capital nos indicadores de desenvolvimento económico e humano.
Sabemos que esta liderança do PSD optou por travar a regionalização, opção muito longe de ser consensual no interior do partido, e que, apesar do silêncio tático de muitos dos seus apologistas, continua a ser defendida como uma necessidade prioritária por muitos sociais-democratas que presidem municípios do Norte ao Sul.
Mas não posso deixar de lamentar, na alocução final deste congresso, a ausência total, o ruidoso desdém pelo país dito real, o país onde diariamente se combatem a partir das freguesias e dos municípios os efeitos nefastos de um centralismo que persiste e que afasta a maioria dos portugueses do nível de vida que a capital já atingiu.
Teria sido de bom tom anunciar que ideias tem o Governo para a coesão do território, para a discriminação positiva das zonas mais deprimidas, para o equilíbrio entre as duas áreas metropolitanas e entre as regiões do país.
Teria sido relevante o compromisso com a expansão da rede de Metro do Porto, com os incentivos para a atração de investimento para a região Norte e para as outras regiões, ou o empenho no desenvolvimento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, etc., etc.
Teria sido simpático que a realização do congresso em Braga se traduzisse ao menos em algum enunciado sobre a aposta nesse distrito. E que os municípios e as CIM não ficassem esquecidos numa longa intervenção que, custa ter de reconhecer, se limitou à crença em Lisboa como motor do país.
Recusamos ser a paisagem que enquadra um desfile de novas e velhas glórias de um PSD que se está a afastar velozmente da sua matriz ideológica, apropriando-se de preocupações neoliberais e securitárias que parecem ecos de outras vozes a quem já se tinha dito que não...
A legitimidade democrática deste Governo tem por base um Parlamento fragmentado, traduzindo a vontade popular de uma governação de diálogo e de construção de consensos.
A perceção desta realidade deveria ter levado o PSD a não se esquecer do país na sua totalidade em nenhum momento. A manifestar o seu empenho com a coesão territorial e social. A mostrar que o desenvolvimento sustentável é um direito de todos os portugueses, independentemente do local onde residem.