Rabo de Peixe é o nome de uma aldeia, um lugar solitário na ilha de S. Miguel, bem no meio do Atlântico, no Arquipélago dos Açores. Um lugar tão remoto que seus habitantes têm dois problemas que poucas vezes nas história puderam resolver: a pobreza e a falta de novidades.
Corpo do artigo
Até que um dia o inesperado aconteceu. Por conta de um acidente marítimo com um grupo de italianos da Máfia siciliana, traficantes de cocaína, uma carga de centenas de toneladas dessa sofisticada substância de ócio e vício deu à costa sem dono, sendo recolhida (e degustada) por simples pescadores.
O acontecimento, verdadeiro, mudou para sempre o cotidiano (e a história) da população da ilha e, hoje, 22 anos depois, uma série da Netflix coloca-a nas bocas do Mundo através de um projeto com ambição planetária.
Pensando nos aplausos do Mundo e nos do Brasil, tomou-se a decisão. Para não perder espectadores, atrizes e atores, não falariam o açoriano mas sim um "correto" português lusitano.
Mas a tropical bilheteira, muito maior que a lusa "bilheteira", observando que o português era "tão de Portugal", "tão chato e de boca fechada" e "tão impossível de entender", decidiu dobrar o Rabo ao Peixe, dublando tudo em brasileiro.
Perdeu-se o insular falar, as expressões peculiares e ritmo contagiante e o som genuíno foi silenciado pelo medo de não ser compreendido no Brasil.
Para quebrar o galho, os lusos colocaram no roteiro expressões como "resolver o problema" no lugar de "dar aquele jeitinho", que significa encontrar uma solução criativa para um problema" tanto no português do Brasil como no falar açoriano.
Não se resiste ao aforismo do Almada. Bom gosto: seda a imitar chita. Mau gosto: chita a imitar seda.
Tirando isto a série é ótima.
Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos