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Todos sabemos que o extremismo é um muito perigoso fenómeno social e ainda assim todos contribuímos no Facebook para a acelerada radicalização da nossa vida pública. Vive-se agora sem capacidade de gradação da importância dos acontecimentos. Já não sabemos escolher com parcimónia as nossas iras e alegrias coletivas. Tudo, por pouco que seja, é sempre muito. Ou é fantástico ou é intolerável. Suponho que seja esta a suprema ironia da preponderância digital: tudo e todos só podem ser agora 0 ou 1, sem mais minudências que possam atrapalhar esta vivência booleana que muitas vezes chega a níveis insanos de histeria. Estamos a banalizar o melindre e a vulgarizar o alvoroço. O jornalismo, que mal e/ou bem foi sendo responsável e responsabilizado pela gestão da tensão coletiva, é agora involuntariamente gerido pelas permanentes explosões virtuais, uma inversão de papéis cujos efeitos ainda estão por determinar. Ainda estamos, é certo, em fase de muita ingenuidade sobre esta nova forma de influência social, tanto quanto estivemos quando nasceu a imprensa, a rádio ou a TV. Mas se continuarmos assim, vamos deixar que os extremos e as suas estratégias do medo controlem as nossas escolhas públicas.
JORNALISTA