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A cidade do Porto sempre se afirmou como uma cidade comercial. De resto, sempre esteve impressa no rosto burguês da sua morfologia urbana, nas ruas e caminhos que a percorriam e na arquitetura do casario apertado que a moldava.
Imaginemo-nos no século XIX. A Alfândega, lugar de entrada e de controlo comercial, era o local desses movimentos, um verdadeiro entreposto comercial na ligação com o Douro, esse rio que nunca dormia, ou com a ferroviária nacional, através do ramal ferroviário que o ligava a Campanhã.
Construído nos finais do século XIX, este ramal foi precioso no transporte de mercadorias até à abertura do porto de Leixões, a partir do qual entra em declínio, encerrando em 1989.
Nos últimos anos, a Autarquia retoma esta velha infraestrutura entre a Alfândega e Campanhã e, em 2020, anuncia dois cenários para a tirar do abandono: ou ser um percurso pedonal e ciclável, ou servir um transporte pendular, confortável e elétrico, tipo "navette".
As duas merecem o aplauso e, sendo eu uma defensora dos modos suaves, estaria muito confortável com esta solução. Contudo, face à ausência de transportes públicos eficientes à cota baixa, o segundo cenário poderá criar sinergias efetivas no sistema de mobilidade dos residentes, de quem aí trabalha ou visita, constituindo-se como uma nova âncora nas dinâmicas locais.
Mas este ramal é muito mais que mobilidade.
Vejo-o fulcral no processo de cerzir a cidade. Isto é, ser capaz de coser subtilmente o território, devolvendo o pulsar nesta área sudoeste da cidade, permitindo o renascer paisagístico e ambiental desta frente em socalcos, parada no tempo.
*Especialista em Mobilidade Urbana