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Sempre achei fascinante como num avião se guarda uma cápsula da humanidade: dos impacientes, que mal as rodas tocam no chão saltam para abrir o compartimento das malas, ainda que as hospedeiras repitam para que todos permaneçam sentados; aos últimos a embarcar, sabendo que, no final, todos chegam ao mesmo tempo. Já tive vizinhos curiosos, certa vez um inglês, fiquei a achar que era padre mas não me atrevi a interrompê-lo, passou todo o voo com a mão pousada na Bíblia a rezar. Todas as ajudas contam, pensei. Há poucos dias foi Rashida, marroquina na casa dos 30. Ia voltar a casa para ver os filhos, de 8 e 13 anos. Mostrou-mos e eu mostrei-lhe uma foto do meu. Trabalha há quatro anos na agricultura em Portugal, é para onde quer levá-los. “Vou de surpresa, muita saudade”. E quando se ouviram as palmas dentro da cabine, apertamos as duas as mãos.