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Raspa, raspa.... Saem dois euros do bolso. Não há prémio. “Dê-me uma de cinco. Pode ser essa mesmo, o pé de meia”. Saem mais cinco euros do bolso e não sai prémio. “Só mais uma, de um”. Sai mais uma moeda do bolso e raspa, raspa. “Tem prémio. Dê-me mais uma, não vale a pena dar o dinheiro”. Raspa, raspa. “Olhe, não deu nada”. E no dia seguinte, o ritual repete-se até se esvaziar a carteira.
Este é um cenário frequente em qualquer quiosque do nosso país. Uma sofreguidão para tentar ter uma recompensa imediata, qual toxicodependente à procura de mais um “chuto”. Há muito que se fala deste problema com a “raspadinha”, mas pouco se faz para atacar de forma estruturada um jogo que atinge, predominantemente, os mais vulneráveis da sociedade, naquilo a que há muito se apelida de “um imposto sobre os pobres”.
Enquanto se joga, alimenta-se a esperança de um prémio que ajude a pagar as contas e, acima de tudo, alimenta-se um “bicho” que vai amealhando as moedas. São mais de quatro milhões de euros diários de rendimento para a Santa Casa e esse é um valor difícil de raspar das contas.