<p>A Europa tem dificuldade em aceitar o sistema de lobbying dos Estados Unidos. Não que no Velho Continente não se faça ainda pior para tentar influenciar a acção governativa e favorecer interesses privados. Mas como na América o lobbying é legal, pratica-se com um desassombro que a Europa das aparências sempre achou despudorado. Sendo generoso, pode descrever-se lobbying como o negócio das relações públicas e marketing político. Sendo realista, são cunhas e jogos de influência a troco de dinheiro. Por favor satisfeito há contrapartidas para o benfeitor político em contribuições de campanha cujo valor está regulamentado por lei.</p>
Corpo do artigo
Mas a imaginação humana tem encontrado maneiras de contornar obstáculos legais para compensar principescamente todos os intervenientes.
Obama prometeu resistir aos embates dos grupos de lobby em Washington. Esta é a declaração de intenções mais repetida em eleições e mais ignorada quando os resultados são conhecidos. A verdade é que, imune às promessas idealistas, a indústria do lobby nem sequer esperou que os democratas assentassem arraiais. Antes do render da guarda na Casa Branca, os escritórios oficiais de cunhas, pedidos e favores começaram a encher-se de operadores de filiação partidária sintonizada com a nova presidência.
Horas antes do resultado das presidenciais ser conhecido, a mais influente empresa de lobbying dos últimos oito anos, a Barbour, Grifith & Rogers adquiriu o controlo da Westin Reinhart. A razão da transacção é cristalina. A Westin Reinhart é detida por Democratas e a Barbour & Rogers é propriedade de Republicanos, que ao fim das presidências de Bush estão cheios de liquidez mas na iminência de perder a valiosa carteira de clientes, cujos interesses têm defendido aos mais altos níveis.
Há perto de três mil destas empresas registadas em Washington. As encomendas são sempre as mesmas. Conseguir que a lei e as suas interpretações favoreçam os clientes. Os métodos também não variam. Influenciar, à custa de muito dinheiro, quem quer que esteja no Poder em nome do povo e levá-los a decidir a favor de um qualquer privado. Os clientes são governos estrangeiros, grandes multinacionais da indústria, centrais sindicais e até entidades improváveis como a Fundação Luso Americana, que teve, também, sabe-se lá porquê, o seu lobbyist em Washington. A Loyello & Associates, na Av. de New Hampshire, foi contratada em 1992 pela FLAD, mas os fundadores americanos levantaram reservas tão sérias a este estranho uso das contrapartidas financeiras da Base das Lages que a avença foi cortada.
Já o Governo português contratou, em 1994, os serviços de lobby da Edelman para sensibilizar os decisores americanos para a questão de Timor-Leste. Os indonésios tinham avençado a Hill & Knowlton e a Kissinger & Associados para contrariar as pretensões de Portugal. O MPLA era cliente da Fenton Communicators e a UNITA da Black, Stone, Manaford & Kelly. Os dois grupos trouxeram a luta da mata angolana aos corredores do Capitólio.
Hoje, para os operadores de lobby, é dia de "business as usual". Muda-se o letreiro, a gerência e o negócio da compra e venda de favores políticos continua como sempre. Vendo bem, a única diferença é que na América os lobbyists têm uma morada, contabilidade organizada e pagam impostos. Em Portugal, não.