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Ao tempo em que escrevo estas linhas, sente--se o país suspenso. Ante a necessidade de adoptar reforçadas medidas de austeridade - agora mediante o anunciado PEC IV - que convençam Bruxelas na cimeira do dia 24, os portugueses interpelam-se sobre o seu futuro próximo. Como se sabe, a situação da União Europeia é premente pois sem uma resposta concertada e atempada a esta crise financeira internacional - que, recorde-se, dura há uns longos quatro anos - as receitas de austeridade propostas pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu, neste momento de crise das dívidas soberanas dos denominados "países periféricos" (designação sempre preferível ao acintoso acrónimo PIGS), vão no sentido quer de impor mais medidas de contenção da despesa pública quer de flexibilizar mais o mercado de trabalho. São, naturalmente, medidas que têm, por si, um forte impacto económico e social.
Ora, nos "países periféricos" que não se encontram intervencionados pelo FMI - Portugal e Espanha - as reacções têm sido de generalizado descontentamento. Acresce que a esta situação se soma ainda a pressão contínua das agências de rating, como aconteceu recentemente com a Moody's ao anunciar cortes do rating de Espanha e de Portugal (e, no caso do nosso país, em dois níveis, não obstante as boas notícias vindas da OCDE atestando que, em Janeiro último, e pelo quinto mês consecutivo, a economia portuguesa continua a expandir-se).
Assim, instalado o clima de incerteza na União Europeia, ante a notória defesa do interesse nacional dos países europeus economicamente mais fortes, que parece condicionar a política europeia, e o facto de tardar uma resposta conjunta à actual crise das dívidas soberanas e a este capitalismo especulativo e sem valores éticos gerado pela crise financeira internacional - e em plena batalha pelo financiamento do Estado - aos dirigentes políticos portugueses exigir-se-á, sem se conformarem naturalmente com o estado actual do país, um acrescido sentido de realismo, responsabilidade e diálogo, quer na defesa da dignidade internacional do país quer do Estado Social, evitando uma nociva intervenção externa com consequências sociais imprevisíveis.