Corpo do artigo
Ao contrário do que nos habituamos a ouvir, os políticos são mal pagos e as suas incompatibilidades, por vezes, limitadas em excesso. O presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, disse-o há poucas semanas e a questão ganhou nova força após a nomeação fracassada de Hélder Rosalino para a Secretaria-Geral do Governo.
Após este caso, outras vozes - como a de Paulo Macedo, presidente da CGD e há vários anos também envolvido num processo semelhante - defenderam a mesma ideia. E não é fácil fazê-lo e ainda ter de resistir às ondas de choque políticas que, inevitavelmente, voltam mais tarde ou mais cedo.
Este tipo de discurso não é bem tolerado pela opinião pública e muitos políticos exploram esse sentimento sem vergonha nenhuma. Mas, na verdade, é um discurso honesto e realista. Se queremos que cidadãos competentes, que se destacam nas suas áreas profissionais, optem pela política e pela intervenção pública, devemos permitir que a sua remuneração seja pelo menos idêntica.
Sim, os portugueses, genericamente, têm baixos salários e percebe-se que seja difícil entender que os nossos representantes ganhem bastante acima da média. O problema é que o reverso significa que essa competência não se paga com os salários atuais e o resultado é, inevitavelmente, uma redução da qualidade daqueles que optam pelas funções públicas.
Também não é simpático dizer isto perante os atuais deputados e ministros, mas estes seriam seguramente mais competentes se fossem mais bem pagos. Compare-se os salários de gestores portugueses de empresas ou da banca, por exemplo, com os cerca de sete mil euros que recebe um ministro e talvez se perceba porque muitas dessas pessoas reconhecidas nas suas áreas dificilmente aceitam funções públicas.