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As alterações climáticas produzem catástrofes naturais cujos efeitos causam uma preocupação e alarido social que se esvanecem no momento seguinte à normalização da situação. O tema é amplamente debatido, os comentadores encontram as melhores soluções e no final tudo fica como estava, até ocorrer novo episódio similar.
Esse é o receio do “dia seguinte” à extinção dos atos protagonizados na última semana em Lisboa. Receio de se considerar como hipótese que aqueles comportamentos se consubstanciaram em momentos extraordinários e sustentados exclusivamente num racional motivado pela ação policial, que interiorizaram como legítimo para a prática de crimes e que lhes foi incutido e desculpado por um lamentável discurso de ódio, intolerância e preconceito para com as forças de segurança, em alguns casos, com origem em personalidades investidas de responsabilidade pública.
Receio que no final e por analogia às questões ambientais, considerem que tudo se deveu apenas a uma ação policial, que alguns, ferindo a presunção de inocência e desrespeitando o tempo da justiça, afirmam ser ilegítima, fique a sociedade tranquila julgando que afinal não temos no nosso país grupos de criminalidade juvenil, violenta e espontânea e que é coisa de fantasia policial classificar como áreas sensíveis, ao nível da segurança, determinadas zonas do nosso território.
Receio que não se vislumbre um problema grave que afeta a segurança de todos, e que fiquemos acomodados, até que novo pretexto revele os mesmos, ou piores, níveis de violência.
Receio que no debate orçamental não se considere nem esteja previsto, como prioridade nacional, um investimento considerável nas nossas forças de segurança.