Estes dois anos passaram depressa, mas simultaneamente dentro deles coube tanta e tanta coisa. Neste tempo, todos aprendemos a ser mais resilientes perante adversidades, a planear menos o futuro e a fazer sucessivas adaptações.
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Quando a 8 de março de 2020 fecharam o campus de Braga da Universidade do Minho, onde trabalho, por causa de um caso positivo por covid-19, encarei isso como uma medida pontual. Quando a 14 de março o coordenador do "Bom dia Portugal" da RTP1 me disse que a revista de imprensa ficaria suspensa nas duas semanas seguintes, porque se iria evitar ter pessoas em estúdio para além dos apresentadores, acreditei que antes do mês terminar estaria de regresso. Não foi, de todo, assim. Dali a dias, o país foi empurrado à pressa para dentro de casa e por lá haveria de ficar até início de maio. Os tempos duros voltariam antes de 2020 findar e as imagens de televisão com ambulâncias em fila à porta dos hospitais por muito tempo permanecerão na nossa memória. Lá voltámos a outro confinamento. Desta vez, por causa da severidade de uma doença que atingia números inimagináveis de internamentos e de mortos.
Passados dois anos, estamos a entrar na fase que os especialistas consideram ser já de endemia. A partir de agora, as medidas de restrição irão desaparecer. E nós seguiremos com o nosso dia a dia. Todos, à sua maneira, se sentirão aliviados. Mas também é verdade que muitos de nós regressarão ao quotidiano de modo diferente: marcados pela dor do luto, asfixiados por dificuldades económicas, deprimidos...
Devo dizer, antes de tudo, que sou uma privilegiada. Ninguém próximo ficou doente com gravidade, nem passei por qualquer processo de luto. Testemunho uma dor à distância e sei que isso me situa muito aquém do sofrimento de muitas, muitas pessoas. Também não exasperei com os confinamentos que tive de fazer, porque lá fui recriando uma certa normalidade num espaço doméstico que subitamente parecia ser tudo ao mesmo tempo: local de trabalho, sala de aula e recreio do meu filho, espaço de conversa com os amigos. Tudo em modo remoto, que depressa fingimos ter uma proximidade feita de renovada motivação e de reinventada cumplicidade.
Olhando para trás, penso que o país se desembaraçou bem deste vírus. E isso deve-se a quem? Aos decisores políticos? Aos especialistas? Também. Mas sobretudo aos portugueses. Foram eles que deram uma resposta efetiva. Que, nos momentos certos, foi exemplar.
*Prof. associada com agregação da UMinho