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O Minho vive uma oportunidade histórica. A chegada da alta velocidade a Braga e Valença pode ser o momento decisivo para transformar três linhas terminais em algo que nunca existiu verdadeiramente: uma Rede Ferroviária do Minho. Mas, em vez de aproveitar esta ocasião, a região continua presa a discussões tímidas e fragmentadas, arriscando-se a aceitar soluções que a prejudicam no presente e a condenam no futuro.
É preciso assumir com clareza que o Minho, com mais de um milhão de habitantes, precisa de uma rede ferroviária que sirva o território, ligue as suas principais cidades e prepare a região para o futuro. E essa rede está ao alcance de decisões políticas e técnicas relativamente simples, se houver coragem e visão.
O cenário atual é conhecido. No início do século XXI, registaram-se progressos significativos, com a eletrificação e duplicação do troço Ermesinde-Braga, eletrificação e conversão em via larga da linha Lousado-Guimarães e eletrificação da ligação Nine-Valença. Mas o resultado foi paradoxal, com a definição de três linhas modernas, mas terminais e desligadas entre si. As linhas do Minho, Guimarães e Braga são hoje pontos de chegada, não pontos de passagem. Logo, a ferrovia do Minho não é uma rede, mas uma coleção de ramais.
Perante a alta velocidade, este problema deveria estar no centro do debate regional. Mas não está. Em vez disso, discute-se uma nova estação em Braga fora da linha existente, como se a questão fosse apenas onde parar o comboio mais rápido. Essa solução não serve Guimarães, nem Viana, nem o Minho. Serve mal até a própria cidade de Braga, porque a isola ainda mais do resto do território. A estação fora da linha atual reforça a lógica de ramais desprendidos quando o que está em causa é, precisamente, construir rede.
Defendo que o Minho não precisa de remendos nem de paliativos como o metrobus. Precisa de uma visão integrada. A alta velocidade deve ser o motor para ligar Braga a Valença, Guimarães a Braga, e todas estas cidades ao conjunto da rede nacional e internacional. Com a correta localização da estação de Braga e a construção de pequenos troços novos, é possível ter circulações Braga-Valença que prolonguem para Viana e comboios circulares Guimarães-Braga-Famalicão-Guimarães. Seria, finalmente, um sistema ferroviário digno da região.
Para que isso aconteça, é fundamental que o Minho fale a uma só voz e reivindique três pontos essenciais:
- Primeiro, a garantia de acesso rápido das principais cidades à rede de alta velocidade, justificado pelo peso da população e pelo dinamismo económico e exportador da região. O Minho, somando os distritos de Braga e Viana do Castelo, exporta mais de 10 mil milhões de euros por ano, afirmando-se como um dos maiores motores económicos do país (INE e AICEP).
- Segundo, a ligação ferroviária entre Guimarães e Braga, pondo de parte soluções frágeis como o metrobus e aproveitando para servir polos centrais, com ligação direta ou em variantes ao Campus Universitário de Braga/Hospital Central, à Vila das Taipas e ao Campus Universitário de Azurém (Guimarães).
- Terceiro, a estação de alta velocidade em Braga na linha existente, seja na atual ou numa nova estação em Ferreiros, desde que assegure sempre a ligação a Guimarães.
O Minho já perdeu demasiado no passado. No final do século XX, viu encerrar linhas estratégicas como Famalicão-Póvoa, Guimarães-Fafe ou Valença-Monção. Entrou no século XXI com modernizações, mas ficou preso à lógica dos ramais. Hoje tem, finalmente, a oportunidade de corrigir esse erro histórico. Mas só o fará se for exigente, se não se resignar a soluções de ocasião e se souber transformar a alta velocidade numa rede ferroviária integrada.
Não é apenas uma questão de transportes. É uma questão de futuro para todo o Minho.

