Corpo do artigo
Uma estudante universitária foi condenada a uma pena de prisão efetiva superior a seis anos. Feriu, agrediu fisicamente ou cometeu ilícitos contra o património da vítima, colocando em risco a sua vida? Nada disso. "Limitou-se" a perseguir uma colega de faculdade nas redes sociais, denegrindo a sua imagem de forma persistente e comprovada durante dois anos. Quem não frequenta estas teias de relações - que ocorrem em ambientes digitais onde a distância impera e a impunidade é a regra -, poderá ficar algo surpreendido com esta aparente dureza da Justiça.
No livro "O paradoxo social", do psicólogo William von Hippel, está exposto, de forma cristalina, o motivo pelo qual as redes sociais podem violentar mais as pessoas que as frequentam do que qualquer convívio a três dimensões, isto é, cara a cara. "A distância social da ligação eletrónica protege-nos das consequências diretas das nossas ações, com o resultado de as pessoas serem com frequência desagradáveis umas para as outras nas redes sociais, de maneiras que nunca utilizariam na vida real. Quando gozamos com alguém pessoalmente, vemos sem a mínima demora a tristeza ou a raiva nos seus olhos e não conseguimos evitar parar de o fazer. Quando gozamos com alguém nas redes sociais, em grande medida estamos cegos à reação da pessoa", explica William von Hippel.
Essa impunidade aparente (a sentença agora conhecida foi real) nas redes sociais faz lembrar que estamos perante a inversão perversa dos famosos "Jogos sem fronteiras", um concurso entre países em que as brincadeiras e pequenos desafios inocentes divertiam as famílias que se colavam às televisões. Nestes jogos das redes, não há fronteiras para o bom senso e civismo. Essa é a diferença.

