De quando em vez, lá voltamos a ouvir quão importante o Norte é para Portugal. Descobrem-no nestas alturas de crise, com o enfado do mero exercício estatístico: com o peso que esta região ainda tem, nomeadamente no emprego e nas exportações, não é possível ignorá-la.
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O Norte é um potencial barril de pólvora que pode explodir a qualquer altura. Na verdade, sempre pôde. O não ter acontecido deve-se, em grande medida, ao mérito dos actores regionais, desde empresários a sindicatos passando pelos autarcas, que foram sendo capazes de encontrar soluções de continuidade lá onde elas pareciam impossíveis.
Com o QREN parecia, finalmente, abrirem-se perspectivas para que se fosse mais ambicioso. Não eram apenas os critérios que se anunciavam mais exigentes, mas a gestão que se dizia mais descentralizada, não obstante os alçapões, as isenções e as derrogações que o poder central para si reservou. Mas eis que a crise nos bate à porta, pondo em causa a rotina do planeamento, pressionando para que se decida depressa e bem o que, como se sabe, não há muito quem.
Na região parece ter soado o toque a reunir. A maior parte das candidaturas apresentadas ao programa das estratégias de eficiência colectiva tem aqui origem, numa diversidade (moda, saúde, indústrias criativas, agro-alimentar, madeira e mobiliário, mar) que é uma prova de vida. Se lhe somarmos o protagonismo regional na iniciativa das energias renováveis e a adjacência ao projecto das telecomunicações, sediado em Aveiro, pressente-se que, talvez, a região se agigante na crise. Como é de tradição e como não tinha vindo a acontecer até agora. Com os efeitos, sobre o país, que são conhecidos: uma década perdida, não por acaso a que se seguiu ao chumbo da regionalização...
O QREN é importante, mas não chega. A região tem de ganhar outras provas de fogo, mais significativas umas, mais simbólicas, outras. Entre as primeiras, tem de vencer a batalha pela gestão do Aeroporto, contra um serviço que viola todas as normas deontológicas do servidor público ao escamotear informação relevante. A mesma que também é necessário exigir, por exemplo, na execução do QREN, para se perceber qual o peso dos tais alçapões e derrogações que implicam imputações à região de fundos que por cá não passam. No Porto, pode ser simbólico, mas é importante que a sociedade civil não deixe morrer o Boavista.
É, porém, pouco provável que estas iniciativas produzam efeitos a tempo de evitar que o tal barril expluda. Há que ir mais longe e preparar um caderno reivindicativo, coordenado pela CCDRN, envolvendo autarquias e parceiros sociais. Contendo medidas dirigidas a problemas concretos e de execução, e efeito, rápido. Algumas das sugestões são já habituais: mais reabilitação urbana e aceleração da construção das barragens, construção e recuperação de equipamentos escolares, sociais, de saúde ou da justiça, formação, emprego de proximidade, rede social. Avanço uma outra: financiar a encomenda, pelas escolas, de uniformes para os alunos dos primeiros anos. Aliviam o custo da educação e dão ocupação a muitos trabalhadores que, de outro modo, iriam parar ao desemprego. Se houver reticências, considerem o uniforme um periférico do Magalhães e logo se há-de arranjar solução!